Estão a matar a meia-noite

Eu vi o Scream na sala 1 do Monumental na sessão das 2 da manhã. Sim, é verdade, havia sessões às 2 da manhã no Monumental, aqui há uns anos. Essas eram as noites. Um tipo saía do cinema fresco para as noites quentes de Verão e ainda ia para os copos às 4 da manhã depois de uma cobóiada, de uma sessão de gore ou de meia cidade destruída entre polícias e ladrões. Depois lá acabaram com isso. Ficaram as meias-noites. As meias-noites eram outras coisa, uma instituição. A sessão preferida dos convivas de tardios jantares e noites longas. As sessões certas para quem queria menos gente nas salas, quando as sessões da noite estavam sempre a abarrotar. As meias-noites são as únicas sessões de cinema para as pessoas com a vida ao contrário. São um protecção das minorias. Quantas vezes não saí de casa e percorri a Estrada de Benfica até ao Fonte Nova para ver quase sozinho uma sessão da meia noite. Ou então, na Vespa de S.Mamede ao Monumental para apanhar um filme quase a sair de cartaz. Ou depois de um dia longo de trabalho, com a sessão das 10 perdida, me encontrei com amigos para um copo no Maria Matos e um filme no King.

É fácil culpar o Paulo Branco, mas seja ele o ovo ou a galinha a história da extinção da meia-noite não tem explicação óbvia. Foi o público que levou Branco a isto ou foi Branco que tramou o público? O que sei é que em cada vez menos cinemas de Lisboa há sessões da meia noite. Até porque há cada vez menos cinemas em Lisboa (mesmo contando com os multiplex dos Centros Comerciais).
Para aqueles que estão habituados a Colombos, Cortes Ingleses e Twin Towers a vida parece boa. E este é um lamento solitário. Mas para quem frequenta outros cinemas de Lisboa, os de Paulo Branco, os do Medeia Card, as meias noites são uma espécie em extinção.

DM

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