Vou para casa

Só estive em Paris uma vez, uma semana em Dezembro de 2001. Dentro de pouco tempo voltarei, no mesmo mês e mais ou menos pelo mesmo período. Recordo-me que o último filme que vi antes da viagem foi "Vou Para Casa", de Manoel de Oliveira - que se tornou a minha película portuguesa preferida. Num dos primeiros dias em Paris, ao sair na estação de metro da Ópera, vi Michel Piccoli sair do edifício. Segui-o durante algumas esquinas, apenas para confirmar a sensação de que ele usava o mesmo figurino e expressão facial da personagem, como se tivesse vindo directamente da tela do cinema para as ruas do centro de Paris.

Hoje, enquanto tratava da passagem, hesitava entre duas enormes vontades: partir ou ficar em casa. Durante o resto do dia vagueei tranquilamente à deriva pelos sítios habitados pelos meus fantasmas. Mas cedo me assustou a sua angústia e, apetece dizer, o frio que tinham.

Por isso vim para casa. Aqui, quer eu quer eles estamos muito mais à vontade. Na sala, no quarto-de-cama, no escritório, na cozinha, na varanda, em todo o lado no interior destas 4 paredes também está frio - e nem todos eles, obviamente, se conhecem uns aos outros. Mas há um tecto comum e é a minha casa. Fico então por cá. Tranco a porta à chave. Abro garrafas de vinho, ponho música, faço as honras de anfitrião - enquanto seguro a passagem na mão e espero o dia de partir. LFB

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