Lorvão III - O Regresso


Digo-o claramente, não achei o filme de Mel Gibson grande coisa. Então, se nos pomos com comparações com Mallick a coisa começa a roçar o ridículo. E se continuamos pela lenga-lenga de que a civilização Maia foi uma das maiores civilizações da História da Humanidade e não merecia ser tratada assim vou ali já venho.

Mas tudo isto é ridículo.

Reparem bem nisto: alguém se lembra de um filme, digo um bom filme, sobre a Inquisição? Estou a falar de uma coisa em grande, com amplas referências ao Index, à mortandade provocada pelos autos de fé, à forma como se entendia a moral e a religião, como as mulheres eram naturalmente predispostas ao diabólico? Eu não me lembro. Façam favor de me enviar rememorações para o email aqui do blog.

Será isto um branqueamento artístico ou falta de tempo para tratar deste fascinante tema? Não sei. Suspeito que é incómodo. Veja-se o que foi o Código de Da Vinci - fraquinho, fraquinho - e multipliquem por cem.

No entanto, vozes a favor da visão livresca de escola, Os-Maias-é-que-eram-bons- nós-é-que-demos-cabo-deles é o que não falta. Como se a arte tivesse que ter preocupações históricas. De rigor histórico.

Mel Gibson lembra-se de contar a sua visão dos anos finais da civilização Maia; e lembra-se de colocar o enfoque, não nos templos todos bonitinhos e fascinantes, não nos complexos cálculos astronómicos e matemáticos, não na sociologia e no urbanismo mas na decadência, na crueldade, na violência. Muito bem. É a visão dele. Mesmo que nem corresponda à realidade.

Acho muito bem que quem não goste desta opção não goste do filme. Parece-me fisiológico e revela um metabolismo saudável. O que já me parece suspeito, para já não dizer perigoso, é considerar que a visão de Mel Gibson é má. É que maldade e mau gosto, creio eu, não são a mesma coisa. Mas tu sacas do teu Nietzsche, eu do meu Kant e às tantas nunca mais daqui saímos. O meu ponto é este: embora não seja cinematograficamente, digo tecnicamente, um primor, o filme de Mel Gibson vale, nem que seja, por uma visão fracturada e fracturante da realidade civilizacional do Novo Mundo. Eu não sei e a discussão académica está instalada, se os espanhóis vieram passar o atestado de óbito a uma nação moribunda. Eu não tenho capacidade para determinar se eles mereciam, pelo seu modo de vida desregrado e cruel, sofrer o suplício dos espanhóis. Mas sei que me interessa muitíssimo pensar nisso desse prisma. Mesmo que no fim não concorde com a visão (hipotética) de Mel Gibson.

Além disso, dentro do género, está também em cartaz As Tartarugas também voam, no Nimas. Mas melhorzinho.
DM

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