verónica e o medo
A MULHER SEM CABEÇA
De: Lucrecia Martel
Com: Maria Onetto, Claudia Cantero, Cesar Bordón
Uma mulher atropela qualquer coisa na estrada, mas não volta atrás. E decide não olhar. Mas a realidade que se constrói dentro da nossa cabeça é tão ou mais real que a que existe fora. Para cada um de nós, fantasmas e sensações não têm menos valor ontológico do que as pedras ou os astros. Teixeira de Pascoaes não desdenharia esta narrativa peculiar de Lucrecia Martel, onde a personagem de Verónica decide ver o que quer ver e o que não quer ver e a câmara escolhe nunca se abrir em planos gerais, mostrando as acções apenas parcialmente e deixando zonas fora de campo. Os factos apontam para que Verónica tenha atropelado um cão, mas ela acha que matou uma pessoa. A radiografia que faz à cabeça, afinal, pode nunca ter sido feita. E, quando muda a cor do cabelo, tudo quanto fez com a cor antiga parece ter desaparecido. Está tudo dentro da nossa cabeça. Mas ninguém pode lá entrar para corroborar a nossa versão da verdade.
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AB
i, 2009.09.26
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