Dois filmes de guerra para a rentrée
A rentrée é, juntamente com o início da Primavera, a minha altura do ano preferida. A partir do equinócio de Setembro, o mês de Outubro abre-se, imponente, no meio do fim do ano. Já foram as vindimas e aspira-se ao vinho novo, os amigos voltaram de férias e há as saudades para matar e as experiências para partilhar, a cidade volta a fervilhar mas o primeiro frio convida aos espaços fechados e acolhedores. E, é claro, há uma melhoria na oferta cinematográfica. Como especial apreciador de filmes de guerra estou contente com esta rentrée que nos oferece dois, muito diferentes. O primeiro é Kathryn Bigelow e chama-se The Hurt Locker (com a fabulosa tradução portuguesa de Estado de Guerra). Esta é a realizadora de uma pequena gema de que gosto muito, chamada Strange Days, de 1995, com Ralph Fiennes, Angela Bassett, Juliette Lewis e Tom Sizemore. Mas, lembrando a partida de Patrick Sayze é preciso não esquecer que Bigelow é também a realizadora de Point Break (aqui, sim, com uma das melhores traduções portuguesas de sempre, Ponto de Ruptura...err, ou talvez não [custava perguntar a um surfista como se traduzia?]). O filme que agora estreia tem argumento de um jornalista que no Iraque acompanhou uma brigada de desminagem. Bigelow fez o resto. O que a guerra permite, além da filosofia e da espiritualidade, é a revisitação e reinvenção técnica dos cineastas. Será engraçado ver e comparar as visões de Malick e Bigelow, ambos realizadores de filmes de guerra e ambos apaixonados por semiótica.
O outro filme de guerra leva-nos do Iraque actual para a China do século III, para a época dos Três Reinos e para mais um épico de luz e cor à boa moda chinesa da última década, de que O Tigre e o Dragão (de outro mestre destas artes, Ang Lee) é paradigmático. Refiro-me a Red Cliff (com a também magnífica tradução de A batalha de Red Cliff... agora pensem comigo...a batalha realizou-se na China do séc. III, o que nos dá alguma segurança para dizer que a escarpa, a falésia, o desfiladeiro ou lá o que é, não teria um nome inglês...daí que uma boa tradução fosse [i] ou A batalha de Chi bi ou [ii] A batalha da Escarpa Vermelha ou mesmo, pasme-se [iii] Escarpa Vermelha). O filme conta com a presença de quase todos os pesos-pesados do cinema chinês actual, incluindo o grande Tony Leung Chiu Wai, o homem de 2046. Está praticamente condenado ao sucesso.
DM
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