Second Life

Sou um desses patéticos geeks do cinema. Quando se conhecem os filmes dos quais Rodrigo Prieto foi director de fotografia e se assiste aos créditos finais até ao fim – por puro respeito a quem trabalhou na película - não vale a pena iludirmo-nos. Daí que ter-me sido concedida a recente graça de um pequenino papel numa longa-metragem é alegria equivalente à de um marrão com acne subitamente agraciado com um free-pass para a Mansão Playboy.
Durante 5 dias, pude interpretar um inspector da PJ na nova produção da Utopia, Second Life. Foi uma daquelas raras situações na vida em que nos oferecem a oportunidade de fazer algo com que sempre sonhámos, num cenário belíssimo, rodeado de grandes pessoas e no fim ainda nos pagam. Os geeks do Mundo sabem que o cinema sempre ensinou que os milagres acontecem. Second Life é uma história sobre o destino, cujo leitmotiv pode ser resumido em duas palavrinhas apenas: e se? Mas se contasse mais pormenores sobre o guião (aí vai o cliché cinematográfico), depois teria de vos matar.
O totó que há em mim (paredes-meias com a criança) cresceu – quando já pensava ser adulto feito. Nada como estar dentro de um filme para compreender ao ponto de minúcia as dificuldades envolvidas no fabrico da 7ª arte. Logo na minha primeira cena, respirei interiormente (julgo) de alívio ao atingir finalmente a marca ao quarto take. Só para ouvir um “corta”, dois segundos depois. Apoiara-me na perna errada e foram os milímetros suficientes para arruinar o plano. Nas palavras desse menosprezado grande actor Nicolau Breyner, o cinema é isto: “Dizem-te onde ficar, ordenam-te que não saias da luz, que inclines a cabeça, que olhes de soslaio, enfies a barriga para dentro, sejas outra pessoa e depois pedem-te a terminar, singelos... Sê natural.”
Durante cinco dias, vivi de facto uma segunda vida. Curta e canastrona, mas feliz.
LFB, publicado no Meia Hora

Comentários

MóniKa disse…
Fico feliz por ti.

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