Rato Mickey


Um Globo de Ouro e, se calhar, um Óscar? Para melhor actor? Antes do agora famoso papel em The Wrestler, o único prémio que imaginaríamos para Mickey Rourke seria alguma coisa do estilo Melhor Deformação Adaptada, a Cicatriz de Ouro ou mesmo um prémio de carreira pelas piores cenas de sexo da história do cinema. Um galardão, aliás, mais do que merecido pela sua contribuição em obras seminais do erotismo suburbano como Nove Semanas e Meia, Orquídea Selvagem e , claro, o injustamente esquecido Outras 9 Semanas e ½.

A verdade é que Mickey Rourke, descontando a personagem de BD de Sin City (que vai repetir na sequela da fita de Frank Miller e Robert Rodriguez) era, desde há muito tempo, uma espécie de ex-actor, condição que sobreveio à de ex-pugilista, profissão em que acumulou a maior parte das atrás referidas cicatrizes e que abandonou imbatível: seis vitórias, quatro por KO. Antes de se dedicar à porrada séria, uma série de filmes cada um pior do que o outro – Nas Portas do Inferno, A Noite do Desespero, Harley Davidson e o Cowboy do Asfalto, Homeboy ou Johnny Handsome – deitaram abaixo uma carreira que mal tinha começado. E da melhor maneira, com alguns filmes de culto como o simpático Diner, de Barry Levinson, em 1982. E, no ano seguinte, o clássico Rumble Fish, de Coppola, onde até tinha bom aspecto no papel do daltónico e estiloso  Motorcicle Boy.

Ainda não vi The Wrestler, do sempre entusiasmante Darren Aronofsky, mas desconfio que a montanha pariu um rato e a repentina genialidade interpretativa de Mickey Rourke não vai mesmo passar do ringue de luta livre.

Paulo Narigão Reis (publicado no Meia-Hora de 15 de Janeiro)

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