Filmes de livros


Gabriel Garcia Márquez fez-se caro mas acabou por ter o seu preço: dois milhões e meio de dólares, arrancados ao produtor Scott Steindorff, que passou três anos a tentar convencer Gabo a ceder os direitos de “O Amor nos Tempos de Cólera”, a partir de hoje num cinema perto de si. O escritor colombiano era dos poucos que ainda resistia à tentação de Hollywood. Um grande romance não dá necessariamente um grande filme, antes pelo contrário. A história da sétima arte está bem recheada de adaptações desastrosas e grandes pepineiras, culminando, pelo menos na minha memória, em “A Casa dos Espíritos”, provavelmente um dos piores filmes da história do cinema no género “adaptação de best-sellers com um elenco de luxo”. No que ao espectador português diz respeito, como esquecer a cena do espancamento pela polícia chilena num descampado de Santiago do Chile, com as Amoreiras em pano de fundo? Já para não falar do que é uma das mais confrangedoramente mal feitas cenas de violação de sempre.

Mas não sejamos injustos. Há grandes filmes feitos a partir de grandes livros, assim como há bons filmes feitos a partir de livros que não são assim tão bons. “Lolita” é um grande romance de Nabokov e um grande filme de Stanley Kubrick. E é também um filme horrível de Adrian Lyne na versão de 1997 com Jeremy Irons, um óptimo actor que com infeliz vocação para entrar em xaropadas épicas como, por exemplo, “A Casa dos Espíritos”... “Do androids dream of electric sheep?” é um conto mediano de Philip K Dick mas inspirou Ridley Scott para fazer a obra-prima “Blade Runner”. Infelizmente, Gabriel Garcia Márquez não teve essa sorte.


PR, publicado no Meia Hora de 20/3/2008


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