Uma longa história sobre lendas e cobardia

Para um país com uma História recente mas bem recheada, como é o caso dos Estados Unidos, a explicação pode ser encontrada na exploração que os meios de comunicação fizeram das novas figuras do grande Oeste norte-americano. Nomes como os de Buffalo Bill, Wild Bill Hickok, Billy the Kid ou… Jesse James.
Pela mão de Andrew Dominik – e com o dinheiro de Brad Pitt e Ridley Scott – chega agora uma nova versão da morte de Jesse James, com o filme “O assassinato de Jesse James pelo cobarde Robert Ford”.
Há pelo menos uma boa razão para temer o filme antes de o ver: na Internet Movie Database o realizador Andrew Dominik aparece referido nos agradecimentos de Water World, umas das maiores banhadas da história do cinema, para manter a metáfora aquática. Daí que, mesmo com produtores ilustres, houvesse razões para cautelas.
Visto o filme a primeira prevenção vai para a sua duração. Quem vai para um filme sobre o Far-West à espera de muita acção compactada em hora e meia de cinema desengane-se: o filme dura 160 minutos e acção é coisa rara.
Nada disto são críticas. O que surpreende em “O assassinato de Jesse James pelo cobarde Robert Ford”, prestes a estrear em Portugal, é um elenco e uma produção de Hollywood para um filme tão contemplativo, tão filosófico. A narração em voz off, as belas paisagens do interior norte-americano e o desempenho caleidoscópico de Brad Pitt criam um objecto estranho no meio do cinema americano recente. Este é um filme preocupado em construir calmamente a história e as personagens. Mesmo que não explique tudo. De um lado há a lenda, que acompanhamos, que ouvimos, que vemos, que quanto mais nega ser lenda mais lenda se percebe que é; e do outro o cobarde, gravitando à sua volta, sentindo o efeito da lenda. Pelo meio belos personagens secundários – uma participação especial de Sam Shepard – e tempo para meditarmos sobre o peso de conviver com a fama, entre armas, assaltos e o velho Oeste.
DM
publicado no MEIA HORA de 6ª feira, 7 de Dezembro

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