blade runner, ou o verdadeiro filme de natal

Há poucas alturas tão más para o cinema como o Natal. É um pouco como o Verão para a televisão: reprises, especiais de praia, tardes intermináveis de nacional-cançonetismo. No cinema, são as animações para toda a família, os novos tomos das sagas filmadas a metro, as mensagens morais, os protagonistas-criança, as comédias com o Pai Natal lá metido a qualquer custo. No pequeno ecrã, passa o Sozinho Em Casa, o ET, o Quo Vadis, a Mary Poppins, a Música No Coração, os Dez Mandamentos e uma série muito boa de co-produção europeia sobre a infância de Jesus de Nazaré. Enfim. Faz-se o Natal dos Hospitais para quê, quando é nas salas de cinema que mais se padece?
De há uns anos para cá, algo de novo veio, contudo, para redimir Dezembro dos seus pecados: o DVD. Nada como esta sigla cacofónica de três letras serve tão bem de resposta à complexa equação que se segue: “no Natal, dão-se presentes, tantos presentes que já não se sabe o que se há-de dar, olha, vamos ter de ir à fnac, mas não sei bem de que música é que ele gosta, livros tenho medo porque ele pode já ter, então, o que é que lhe compro?”
Digam todos comigo: dê-vê-dê!
Este ano, em particular, paira por aí, num qualquer escaparate, o DVD de sonho: o Blade Runner – edição especial de coleccionador. Cinco discos com milhares de extras, a edição original do filme; a que surgiria, depois nos cinemas; o ‘director’s cut’ e o derradeiro ‘final cut’, por apenas 36€95. Enfim, aquilo que um fã descreveria como um – perdoem o tecnicismo – regabofe.
Terminaria, pois, recordando o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, a minha namorada e todos os que se dizem meus amigos, que o Natal é um tempo de dádiva. E que a espontaneidade é uma virtude francamente sobrevalorizada.
AB

[publicado no MEIA HORA de sexta-feira, 21 de dezembro 2007]

Comentários

G Marinho disse…
Parte I - o blade
Passei por aqui para ver se o alexandre tinha um email d contacto na "noite americana" e.. bom, o Natal, felizmente pouco espontâneo, trouxe um Blade Runner só p mim. Iupi.

Parte II - o boato
O irlandês também disse: "for every man kills the thing he loves". Foi p isso que o AB matou "o boato"? Buu.

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