Enciclopédia Moderna da Vida Íntima - I
Uma das questões interessantes que Lost in Translation aborda é a do paradoxo da cultura, da educação, da erudição. Creio que este paradoxo pode ser expresso dizendo-se que quanto mais cultos, educados, eruditos somos menor é o nosso grupo de partilha. Isto é, à medida que nos tornamos sujeitos mais abrangentes tornamos os outros objectos e ficamos, assim, com um grupo de partilha mais restrito.
Esta ideia surge-me depois de rever o que gosto de chamar o momento Evelyn Waugh de Lost in Translation. Para quem não viu ou não se lembra passo a recordar: Scarlett e o marido caminham abraçados pelo lobby do hotel quando encontram uma amiga dele, actriz jovem e bimba, que está em Tóquio a promover o seu filme. Após uma conversa histérica a jovem despede-se dizendo que está hospedada sob o nome de Evelyn Waugh. Após comentar com o marido que Evelyn Waugh era um homem há uma breve discussão que termina com ele a dizer que nem todos frequentaram Yale. Para o caso é irrelevante se Scarlett frequentou ou não Yale mas sim o que Yale significa. O elitismo associado traz igualmente um certo tipo de marginalização. A discussão daqui para a frente é irresolúvel, segundo o velho brocardo popular do ovo e da galinha: vamos nós para Yale por que sentimos um apelo por respostas mais claras e mais profunfas ou é por frequentarmos Yale que somos confrontados com maiores profundezas, dilacerantes e íntimas? Seja como for Scarlett encarna, também, esse sujeito, objecto perdido, que deambula por Tóquio à procura de sentido, sentido esse que nunca sabemos se sempre sentiu necessitar ou se foi Yale que o convocou. Sentido que, cremos, a jovem actriz bimba não procura nem a persegue, leve que é a sua vida, livre para colocar o budismo no Japão e reservar um quarto sob o nome de Evelyn Waugh. Mesmo sendo Evelyn um homem.
DM
Esta ideia surge-me depois de rever o que gosto de chamar o momento Evelyn Waugh de Lost in Translation. Para quem não viu ou não se lembra passo a recordar: Scarlett e o marido caminham abraçados pelo lobby do hotel quando encontram uma amiga dele, actriz jovem e bimba, que está em Tóquio a promover o seu filme. Após uma conversa histérica a jovem despede-se dizendo que está hospedada sob o nome de Evelyn Waugh. Após comentar com o marido que Evelyn Waugh era um homem há uma breve discussão que termina com ele a dizer que nem todos frequentaram Yale. Para o caso é irrelevante se Scarlett frequentou ou não Yale mas sim o que Yale significa. O elitismo associado traz igualmente um certo tipo de marginalização. A discussão daqui para a frente é irresolúvel, segundo o velho brocardo popular do ovo e da galinha: vamos nós para Yale por que sentimos um apelo por respostas mais claras e mais profunfas ou é por frequentarmos Yale que somos confrontados com maiores profundezas, dilacerantes e íntimas? Seja como for Scarlett encarna, também, esse sujeito, objecto perdido, que deambula por Tóquio à procura de sentido, sentido esse que nunca sabemos se sempre sentiu necessitar ou se foi Yale que o convocou. Sentido que, cremos, a jovem actriz bimba não procura nem a persegue, leve que é a sua vida, livre para colocar o budismo no Japão e reservar um quarto sob o nome de Evelyn Waugh. Mesmo sendo Evelyn um homem.
DM
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