profissão: passageiro
Pode um plano-sequência valer um filme inteiro?
AB
P.S.1: Será justo que Maria Schneider tenha tido um lugar na História do Cinema apenas por causa de um pacote de manteiga? Será por isso que desapareceu? Porque, de repente, veio a moda da margarina?
P.S.2: Que sentirão actores como Nicholson quando se vêem 30 anos antes tendo, efectivamente, 30 anos mais, sem qualquer piedade?
P.S.1: Será justo que Maria Schneider tenha tido um lugar na História do Cinema apenas por causa de um pacote de manteiga? Será por isso que desapareceu? Porque, de repente, veio a moda da margarina?
P.S.2: Que sentirão actores como Nicholson quando se vêem 30 anos antes tendo, efectivamente, 30 anos mais, sem qualquer piedade?
Comentários
Mais importante, "Profissão: Repórter" é um filme absolutamente coerente com o Universo gizado por Antonioni, sobretudo a partir de "Il grido" e, principalmente, da fantástica trilogia "l'avventura", "la notte" e "l'eclisse".
Contudo, não resisti aos P.S. 1 e 2.
Quanto ao P.S.1:
De facto, sempre que ouço o nome Maria Schneider, não consigo evitar que me assalte o espírito a famosa cena do Último Tango em Paris com o Marlon Brando...
Por que será?!? Não percebo!
P.S.2:
Essa é uma boa questão...
É a prova de que o tempo existe, passa e é inapelável. Mas não sei responder-te...
Sobretudo quando esse plano-sequência, para além de hipnótico e virtuoso, é o corolário lógico do que já se antevia em todo o filme. Lembre-se que Antonioni, para além de não ser um autor fácil, obriga a uma análise e atenção constantes por parte do espectador (exemplo paradigmático: "Blow up". O que parece é e há realidades indesmentíveis para além do óbvio).
Convém não esquecer que Antonioni é dos poucos que trouxe algo de verdadeiramente novo para o Cinema: ofereceu-nos uma linguagem verdadeiramente visual (e simultaneamente poética). Note-se que não é necessário conhecer a filmografia de Antonioni para apreciar este "Profession: reporter", mas caso tal suceda, facilmente se percebe quer a temática, quer o estilo, bem como o ritmo muito próprio.
"Profession: reporter" é o canto do cisne deste autor. Todo o seu cinema está lá, tal como o seu estilo visual. Antonioni não contava histórias. Mostrava-as. E ao fazê-lo punha a nu, como poucos, o grande vazio da alma humana nas sociedades modernas. Dito de outro modo,
Antonioni é "o" realizador pós-moderno. E esse é só um dos elogios que lhe podem ser feitos. Há outro elogio: é o menos italiano dos Mestres italianos. Antonioni não puxa ao sentimento. Disseca-o e faz análises exaustivas. Talvez por isso Ingmar Bergman ficasse tão incomodado com este Cineasta monumental.
Bem, é melhor calar-me, que o comment já vai longo.
Cumprimentos.