shopboys
A braços com as compras natalícias, os americanos nocturnos têm sido forçados a subalternizar o tempo para o cinema ao espírito da época. É má política, claro, porque, depois, vão dar por si nas festas de família e toda a filmografia que terão ao seu dispor será a fornecida pelas estações televisivas, isto é: tardes inteiras ao final das quais já metemos o E.T. a voar com o chapéu-de-chuva da Mary Poppins, gamado enquanto ela separava as águas do Mar Vermelho para deixar passar o capitão Von Trapp, fugido de Belém porque Herodes o queria matar, a mando do terrível Dr. Jivago.
Bom, em todo o caso, este elemento em particular ainda conseguiu espreitar Shopgirl e recomenda. Não tenazmente, mas recomenda (apesar de mais uma notável tradução nacional, através da qual aprendemos que 'shop' significa, afinal, estar cheio de sonhos - Martin Luther King, por exemplo, será doravante conhecido como um 'shoppolitician', ao passo que os centros comerciais recolherão, de hoje em diante, doentes de insónias). A banda sonora acompanha um vago aroma de pretensão de todo o filme, mas o argumento desencantado de Steve Martin que reúne três vagos aspirantes ao amor, sem épica nem elegias, merece os elogios que tem recebido da crítica. E há, para quem goste, Claire Danes. AB
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