Brief Notes on Broken Flowers

1. Para um fanático epistolar como eu o princípio deste filme de Jarmusch é promissor: acompanhar o processo postal é algo de erótico, entre o revelador e o clandestino;

2. Bill Murray encontrou, realmente, o seu estilo. A sua expressão corporal minimalista provoca exactamente o oposto: uma forte reacção emocional. E esse é o Bill Murray que todos parecem querer ultimamente;

3. Julie Delpy, lindíssima, dura e fugaz;

4. Stone e Lange tratadas como as mulheres que são;

5. Magnífica banda sonora. Etiópia rulez!

6. A evocação pode parecer descabida, Frears e Jarmusch são universos distintos, mas dei por mim a pensar em Alta Fidelidade. O mesmo voltar ao passado para chegar a algum lado. Ou para ir para algum lado. A diferença está, e é toda a diferença do mundo, em que Cusack consegue realmente concluir algo de operativo e útil. Murray não.

7. O final do filme é prodigioso. Simples em si mesmo vale pela forma como percebemos o valor (o custo) dessa simplicidade. De outro modo seria simplista, simplório mas não simples. Aliás, é de valor que todo o filme trata. Não há outro tema em Broken Flowers senão o valor. A este respeito parece que por todo o lado o valor, enquanto tema, está sempre a refluir nas preocupações de alguém. Nem vou tão longe quanto Cultura e Valor, de Wittgenstein (o primeiro exemplo que me vem à cabeça de entre milhares existentes), basta dizer que há poucos dias li num blog isto. Quando ouvi as palavras finais de Murray lembrei-me imediatamente desse post.

8. Parece que mais tarde ou mais cedo há umas mentes tendentes à psicose do valor.
DM

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