olha os robôs, é prò menino, é prà menina, ô-ô


Estreias: TRANSFORMERS 3

De: Michael Bay

Com: Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, Patrick Dempsey

“Transformers 3” esforça-se. Esforça-se mesmo. Ao fundo de cada plano, espreita a consciência do fracasso do filme anterior. Ehren Kruger, o novo argumentista (os originais debandaram por não quererem tornar-se maçadores. Tarde demais, dizemos nós), tenta mesmo fazer boas piadas, arranjar uma teia de histórias, dar algum sentido àquilo tudo. Os produtores foram buscar para os papéis secundários John Malkovich e Frances McDormand, actores a sério para que os pais que conduzem os adolescentes ao cinema também se tentem a ficar para ver. Michael Bay atrasa a primeira explosão até não aguentar mais. E o próprio Shia LaBeouf lhe dá com a alma para não parecer um adolescente imberbe que ninguém percebe o que faz ali entre o exército norte-americano e um bando de robôs gigantes.

Mas a coisa, simplesmente, não vai lá. É que “Transformers”, um, dois ou três, é sempre “Transformers”, uma série de filmes sobre robôs extraterrestres que ficaram sem planeta e vieram para a Terra, onde vivem disfarçados de carros. É um universo sem pés nem cabeça. Não faz qualquer sentido. O nonsense é um género artístico, mas só tratado enquanto tal: nonsense, absurdo, humor, coisa que não se leva a sério porque, levando, entraria em auto-destruição.

Os “transformers”, no tempo em que apareceram, eram um brinquedo. Um brinquedo porreiro para rapazes que podiam ter, num só objecto, duas brincadeiras: um carro e um robô. Não tinham mais pretensões do que isto. A adaptação ao cinema obrigava à criação de uma história que os sustentasse, mas, aparentemente, ninguém se preocupou muito com o assunto. Assim, a cada novo filme, assistimos ao esforço desgarrado de fazer avançar uma história que ninguém sabe, realmente, aonde quer chegar.

Neste terceiro volume, achou-se que a solução seria enxertar o pouco que se sabia dos ETs-robôs em factos históricos. Numa das viagens à Lua, Edwin Aldrin (tem direito a cameo) teria lá encontrado uma nave alienígena. O caso teria sido mantido em segredo para não assustar a humanidade e, em Chernobyl, os russos tentaram analisar os materiais da nave – com consequências catastróficas. Nesta altura, caro leitor, queremos rir, mas há qualquer coisa de tão repugnante nestas leviandades que faz disparar primeiro o alarme do bom gosto.

Nave para cá, nave para lá, entre robôs bons e maus os segundos lá conseguem juntar as peças que lhes permitem atirar-se ao velho plano: dominar o mundo. Então, Michael Bay sente que já contou história suficiente e pode, por fim, soltar o show do costume: soldados e tiros, lutas e explosões, cidades arrasadas e ai de nós que é o fim. Enquanto isso, Shia LaBeouf passeia a nova namorada entre o apocalipse. Já se sabe que Megan Fox foi despedida por discordar dos métodos do senhor Bay – Oh, heresia – mas a única coisa que Rosie Huntington-Whiteley trouxe de novo foi a cor de cabelo. De resto, continua a ser um adereço decorativo que diz algumas frases (certos bonecos também, em apertando-lhes a barriga), solta gritinhos de aflição e alimenta o verdadeiro mistério da saga “Transformers”: o que é que aquelas miúdas tão giras viram em Shia LaBeouf? Já agora, o que é que os robôs gigantes com super-poderes viram em Shia LaBeouf? Quando o mundo está a ir pelos ares, por que é que as miúdas giras se agarram à mão de Shia LaBeouf e não à manápula dum dos robôs gigantes? Não sei o que pensa o leitor, mas era o que nós faríamos. E não somos uma miúda gira.

Resta dizer que nada sugere que este seja o último “Transformers”. Os maus morrem no fim, mas o planeta não estará seguro enquanto Michael Bay andar por aí.

AB

i, 2011.06.30

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