michael cera
Juventude em revolta ou o triunfo dos nerds
Se ainda não ouviu falar dele, há-de ouvir em breve. Chama-se Michael Cera e é óptimo a fazer de miúdo por quem ninguém dá nada
Em primeiro lugar, é preciso dizer que não sabemos se Michael Cera, em pessoa, será mesmo nerd. Mas, no caso dum actor, pouco importa o que se é; importa o que se representa. E Cera – sim, Cera. O pai é um imigrante siciliano – representa o triunfo do nerd na cultura pop do nosso tempo. A vingança dos miúdos para quem nenhuma rapariga olhava na escola e que, depois, cresceram, agarraram em guitarras e câmaras de filmar e criaram novos heróis: apenas com a musculatura necessária à sobrevivência, tez pálida e vastos conhecimentos em b.d., cinema e música escandinava pós-alternativa.
Tudo começou no Canadá, país de quem o mundo não tinha razão de queixa até aparecer Celine Dion. O pai siciliano e a mãe quebequiana tiveram, em 88, um segundo filho. Em 88, sim. Quando por cá já se andava de braços cruzados no ar a gritar pelos Xutos e toda a gente queria fazer a folha ao Veloso por causa do penalty na final da Taça dos Campeões. Nestes poucos anos que passaram, Michael cresceu e é estrela de cinema. É melhor não pensarmos muito no que andamos a fazer com a nossa vida.
Porque, no Canadá, também se exploram criancinhas com vontade de ser famosas, Michael estreou-se nuns anúncios de TV – à borla. Não contente, foi fazer o casting para puto-que-vê-pessoas-mortas em “Sexto Sentido”, mas perdeu para Haley Joel Osment. A partir daqui, há duas formas de olhar a questão: é verdade que foi fazer voz de boneco num mísero episódio do “Noddy” e que Haley se tornou uma vedeta; mas, por outro lado, Cera é hoje uma estrela em ascensão e Haley faz vozes para jogos de vídeo. Por vezes, é precisar dar um passo atrás para dar dois em frente, diz alguém que todos temos na família.
As coisas iam mudar para Michael. Faz um telefilme, “What Katy Did”, e uma série, “I Was A Six Grade Alien”. Entra em “Confissões De Uma Mente Perigosa”, a estreia de George Clooney na realização e “Arrested Development” recruta-o para o elenco fixo. Já não dava para os estudos: Michael termina o liceu por correspondência – uma pena, dado que, agora, as miúdas já deviam olhar para ele.
Em 2007, chega ao topo do mundo, ou quase. A CBS encomenda-lhe uma série para um canal de internet que ele escreve, produz, realiza e interpreta com o amigo Clark Duke; estreia “Superbad” e faz “Juno”. E todos os adolescentes do mundo querem confortá-lo pelo azar de ter engravidado a namorada. E todos os adultos se enternecem com a candura desajeitada do rapaz.
Amanhã, estreia “Juventude Em Revolta”. Cera repete a dose, mas, desta vez, sem azares. Tem uma longa carreira à frente, mas já não poderá ser o miúdo nerd muito mais tempo.
Filmografia essencial:
CONFISSÕES DE UMA MENTE PERIGOSA, George Clooney
A primeira aparição em qualquer coisa que tenhamos visto. É Chuck Barris em criança, o produtor de televisão com uma vida dupla como assassino da CIA.
SUPERBALDAS, Greg Mottola
Cera entra no reino dos heróis indie adolescentes. Rodeado por Jonah Hill, Seth Rogen e Chistopher Mintz-Plasse, é premiado em Austin, Chicago e Canadá.
JUNO, Jason Reitman
Ainda que seja Ellen Page a brilhar, ninguém esquece Cera. O filme chega aos Óscares e ao coração do público. Grandes texto, banda sonora e adereços.
PAPER HEART, de Nicholas Jasenovec
Escrito pela namorada, Charlyne Yi, e interpretado por ambos, com os nomes próprios. Uma linda história, não tivesse o romance acabado no ano passado.
JUVENTUDE EM REVOLTA, de Miguel Arteta
Outra vez, o adolescente nerd obcecado com a perda da virgindade. O filme nada traz de novo, mas Cera brilha com uma personagem que se desdobra em duas.
AB
i, 2010.05.19
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