Notas breves sobre tudo

Nas imortais palavras de Filipe, em Mafalda, "a Preguiça é a mãe de todos os vícios. E mãe é mãe, há que respeitá-la."

1. Nos últimos 7 dias vi cinco filmes, dois nos cinema, três em dvd. Os dois que vi no cinema foram Brisa de Mudança, mais um título para a galeria das traduções ridículas e The Lake House, suave história romântica entre Sandra Bullock e Keanu Reeves. Em dvd (re)vi The Hunger, Full Metal Jacket e deliciei-me com Millenium Actress.

2. The Wind that shakes the barley, cuja modesta tradução que proponho poderia ser O vento que agita a cevada é um filme que fui ver por comprazimento para com a minha paixão pelo século em torno da independência da Irlanda. Os cem anos em volta dos anos vinte do século passado, sensivelmente entre 1870 e 1970 são um período que me fascinava já antes de visitar a Irlanda, já antes de, por razões profissionais e pessoais, estudar o seu milagre económico, que é, também civilizacional. Ao contrário de outros filmes históricos, entregues a uma narrativa clássica em torno das personalidades, este The Wind that shakes the barley, como o nome poderia indiciar, é um filme com uma narrativa historiográfica mais próximo da História Nova, sem grandes personalidades, sem grandes acontecimentos, para além do grande acontecimento ele mesmo, o nascimento de um novo país. O título, pedido emprestado a uma canção tradicional irlandesa (fantástica a versão dos Solas), convoca bem esse tipo de narrativa povoada de personagens anónimas mas que, por isso mesmo, dão mais força à destruição e dilaceração de um país, para além dos Collins e de Valeras.

3. The Lake House tem uma ideia boa. Às vezes acontece. Há um tipo com contactos que tem uma insónia, uma ideia, depois um texto, um guião e alguém o resolve filmar. Convida-se a Sandra Bullock e o Keanu Reeves e está feito. Claro que, mesmo sem o vermos, sabemos que este filme é mau, tem de ser, está-se mesmo a ver, nem precisamos de ir vê-lo, blá, blá, blá. E é. Não é um grande filme. Mas tem uma ideia boa e um contexto interessante, para quem se interesse por arquitectura a história paralela entre filho arquitecto e pai arquitecto (o magnífico Christopher Plummer) chega até a ser interessante. E isso pode bastar para ser ver cinema.

4. Voltar a The Hunger tem várias recompensas a primeira das quais é Peter Murphy a abrir, com os seus Bauhaus a actuarem para Catherine Deneuve e David Bowie no delirante dealbar dos eighties. Só por esse clima sabe bem voltar. Mas há também Sarandon e Deneuve muito antes de Tilly/Gershon ou Watts/Harring. E há o sangue e a vida eterna.

5. Na longa lista de coisas incompreensíveis deste mundo deve estar em posição de destaque a carreira obscura de Matthew Modine. Em Full Metal Jacket tem um bom desempenho que prometia mais. Não se cumpriu. Mas Kubrick assinou um dos melhores filmes de guerra. E apesar de já o ter visto vezes e vezes há sempre alguma coisa para me inspirar. Desta vez foi o tema musical com que o filme encerra. Mas, sobretudo, confirmar como Jarhead o segue atentamente.

6. Millenium Actress. Vejam.

DM