Humphrey Bogart e eu


Há dias em que toda a experiência cinematográfica que temos é esta: ficar sentados numa poltrona do Snob a olhar o retrato de Humphrey Bogart na parede diante de nós. Se fosse outro, retomaríamos a leitura ou a conversa. Mas é Bogart e a Bogart um homem deve sempre uma boa dose de respeito, ainda que o quadro não seja particularmente bom. Então, já não pediria nenhum bitoque ou um par de croquetes, acompanhado da embalagem de mostarda. Arruinaria o momento; desequilibraria ainda mais a contenda. Fica-se ali sentado a arrancar fumo ao cigarro, reservando dois dedos para erguer o whisky. E pensamos que a amizade entre dois homens é uma coisa muito estranha. Em todo o caso, o caminho que fazemos depois, de regresso a casa, percorrêmo-lo sentindo-nos como ele. Colarinhos do sobretudo para cima, mãos nos bolsos e cigarro ao canto da boca. As Ingrid vão e vêm, mas o olhar honesto de um companheiro sobrevive a qualquer noite fria.
AB

Comentários

Barreira Invisível Podcast