Brief Notes on Just Like Heaven

Um tipo deve saber que quando vai jantar a casa dos pais num Sábado à noite tudo pode acontecer (de resto que tipo de pessoa vai jantar a casa dos pais num Sábado à noite).

Um tipo regressa a pé para casa, porque está frio, e o frio fá-lo sentir-se vivo, sentir o calor por dentro.

Um tipo passa perto de um cinema. E um vício é um vício, pode lutar-se contra ele mas há que reconhecer aquela tentação imensa de não se ter vontade, de se ter uma desculpa. É o vício.

E um tipo sabe que não há nenhum filme de jeito, quer dizer, suspeita que não há nenhum filme de jeito. Mas isso é para uma decisão, não para o vício.

Um tipo entra e pede um bilhete para a primeira sessão que estiver a começar, Just Like Heaven, no caso.

Um tipo encontra alguma conforto em não vir ao cinema há mais de duas semanas no facto de não ter de suportar pela enésima vez as mesmas apresentações. Excepto, infelizmente, a d'O Fatalista.

E um tipo até gosta do Mark Ruffalo. Contando este só o viu em dois filmes, sempre com loiras, Meg e Reese, de seus nomes.

E um tipo até está a precisar de comédias, místicas, metafísicas, românticas, qualquer coisa.

E um tipo desde 2000 que chora, no cinema, por tudo e por nada, mas sempre, condignamente, lá à frente, em cenas lamechas, chora de novo. Como da primeira vez, no E.T., no Alfa. Que deus guarde a sua alma, que os cinemas também têm alma.

E daqui a uns dias já nem se lembra do filme, só o bilhete, guardado em ritual antigo, o poderá um dia recordar mas nem por isso a noite de Sabádo deixou de passar (e de resto que tipo de pessoa vai sozinho ao cinema, num Sábado à noite, ver uma comédia romântica?)
DM

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