A loucura do homem comum

Está em cartaz mais um filme com Angelina Jolie. Esta afirmação é capaz de convocar as mais estranhas e diversas reacções, porém, quase todas com a mesma característica: esfuma-se o interesse pelo filme em si. Mas este não é apenas mais um filme com Angelina Jolie e pode bem sofrer dessa maldição sem o merecer. Falo de Procurado, Wanted no original, descendente de uma linhagem nobre de banda desenhada americana. Quem goste do género comic e das suas adaptações cinematográficas reconhecerá imediatamente um certo contexto que remete para Fight Club e The Matrix (quem não goste pode ir inteirar-se à Wikipedia). Porquê? Por que em todos estes filmes (e tantas outras bandas desenhadas nunca adaptadas ao cinema) há uma espécie de elogio ao homem comum que se transcende em violência, tão-só por colocar em causa a sua existência medíocre e banal. Antes lia-se Sartre, fumava-se nos cafés e com sorte apanhava-se uma cirrose. Agora há o tuning, os festivais de Verão e Wanted. Verdade seja dita, há aqui uma evolução na cadeia, tanto na obra de origem como (sobretudo) no próprio filme. Em primeiro lugar Procurado farta-se de gozar consigo próprio, principalmente através do personagem de James McAvoy e isso é bom: os maus filmes de acção, sobretudo aqueles que levam longe de mais a nossa capacidade de aceitar o inacreditável, são bem melhores quando temperados com algum humor. Por outro lado Procurado não tenta trazer nenhuma ideia de Bem ou Justiça: há um gajo normal que descobre que é um tipo bera como tudo e toca de gozar a vida. Excluindo a quantidade de mortos que isso implica não é uma má moral. E sempre há Morgan Freeman. E Angelina Jolie.

DM

(publicado no Meia Hora da passada sexta-feira)

Comentários

pseudo-autor disse…
Quando vi o trailer a priimeira vez tinha achado meio forçação de barra... no entanto, é provável que vá assistir agora (consegui um exemplar dos quadrinhos emprestado e li...). Chamou minha atenção pela narrativa da HQ. Quem sabe o diretor não faz algo bom.

Discutir mídia e cultura (Meu outro blog):
http://robertoqueiroz.wordpress.com
Anónimo disse…
Vi o texto no Meia Hora (que li por acaso, pois não costumo andar de carro por Lisboa, e como a viagem ainda ia demorar devido ao transito e aos semaforos, aproveitei) e acabei por guardar o artigo, porque sinceramente gostei.
Até o partilhei com o meu namorado e acabou por dar numa conversa com pano para mangas. Porque é verdade!
Isso, e os actores e actrizes serem famosos por determinado papel. Pensámos no caso da série "Dr. House". Como se chama o actor principal? Responderam-me: Gregory House.
Quase mais ninguém sabe que Hugh Laurie (o Dr. House...) faz de pai Litlle no filme "Stuart Little", ou que entra nos "101 dalmatas" também como pai/dono daquela cachorrada toda... Exemplos talvez patéticos, mas são os que tenho à mão, nas antigas VHS da minha infância...
odiei o filme...

nao percebo como a Angelina aceita fazer um filme tao banal...


má gestao da carreira.
noite americana disse…
Odiar o filme ainda vá, que isso é juízo a cada um, mas supresa pela má gestão da carreira de Angelina Jolie é uma contradição nos termos. Ou coisa do género. DM
Joana Amoêdo disse…
Quem sou eu para dizer à Angelina como gerir a carreira mas realmente é um filme que não me interessará mais do que uma espreitadela um dia que passe na tv. Mas achei graça à tua abordagem "mais um filme com Angelina Jolie", é difícil, de facto, não encerrarmos as coisas dessa forma. Gosto dela, contudo.
Anónimo disse…
Vi apenas o inicio do filme (pirateadissimo - shame on me) porque entretanto adormeci (cansaço estudantil), mas o que me ficou foi, de facto, a semelhança com The Matrix e até com Constantine, de certa forma. Não sou fã do género, embora saiba reconhecer o valor de The Matrix pela mensagem e tenha gostado de Constantine porque me conseguiu surpreender (achei original. não é só mais um filme sobre o sobrenatural. tinha logica.). Anyway: a Angelina faz o que quer, não só porque é livre, mas porque pode. Aproveito para lembrar a eventuais babados a gravidez da senhora aquando das filmagens do filme.
Quanto a Hugh Laurie, já conhecia de facto desses 2 filmes e de uma pequena (mas engraçada)aparição na série Friends. No entanto, o que tem verdadeiramente piada é vê-lo em Black Adder, num papel impensável a Gregory House.

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