Prometheus I - Concepção Inteligente
Como sabem, o Universo move-se de misteriosas maneiras e sucede que acabei de ler, há menos de uma semana, Secular Philosophy and the Religious Temperament : Essays 2002-2008, de Thomas Nagel.
Nagel, um dos grandes filósofos do nosso tempo, conseguiu enraivecer muitos ateus militantes e várias dezenas de cientistas (não necessariamente os mesmos), quando há uns anos recomendou, no Times Literary Supplement, um livro de Stephen Meyer, Signature in the cell, que defende uma variante do Creacionismo, denominado Concepção Inteligente (Intelligent Design).
O problema dos críticos de Nagel, no que toca à recomendação do livro em questão, é que confundiram duas questões, que vários ensaios de Secular Philosophy and the Religious Temperament tratam de distinguir: acreditar que existe Deus e que foi ele que criou o Universo e nós incluídos; e acreditar que a vida está cientificamente ordenada através de uma vontade inteligente, mesmo que não se acredite em Deus. Para Nagel, esta dissociação é possível.
Claro que estando envolvida na discussão uma possibilidade de ligação a Deus, há imediatamente uma espiral de loucura e excesso à volta dos argumentos utilizados de parte a parte. Nagel é a melhor excepção que encontrei até agora. Para mais, ele não é um crente.
Vem isto a propósito de Prometheus, o novo filme de Ridley Scott, quase a estrear nas salas portuguesas. Apesar de enquadrado pela saga Alien seria um erro pensar no filme como mais um capítulo, ainda que precedendo todos os outros. Há muito mais em jogo neste filme.
Claramente sugestionado pela leitura dos ensaios de Nagel, passei o filme todo num ping-pong entre, crença, evolução e concepção inteligente. O filme é, neste aspecto, brutalmente estimulante, porque mais do que tomar lados - as personagens fazem isso pelo filme - Prometheus coloca muito bem os problemas, sem complexos, nem dogmas. Mas ciente deles.
Do que se trata é de saber se a vida (ou apenas a vida humana?) foi surgindo por acasos motivados por mecanismos de sobrevivência, como defendem os seguidores de Darwin, ou se foi desenhada de acordo com uma inteligência superior, mesmo que não Deus, mas apenas um outro tipo de vida, suficientemente inteligente para nos criar a nós. Neste sentido, Prometheus complica ainda mais a discussão em curso e faz um belo trabalho pela função estimulante da arte sobre o pensamento.
DM
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