mediterrâneo agosto em pleno verão


MIÚDOS E GRAÚDOS

De: Dennis Dugan

Com: Adam Sandler, Kevin James, Salma Hayek Pinault

Agosto e o cinema têm uma relação difícil. Embora os filmes não se semeiem nem apanhem no mar, sabe-se que têm épocas, qual uva ou lampreia. Em Setembro, é a rentrée; no Natal é o Natal; daí até à Março, é a época de pôr toda a carne no assador enquanto não se entregam os Óscares. Agosto é a seca. Ou o pousio. A altura em que não há nem uvas nem lampreias. Estreia pouca coisa, más coisas, mas coisas que chamam muita gente. Miúdos, famílias e malta que não tem nada para fazer ao fim-de-semana, enquanto não começa a Liga de futebol. Por outro lado, numa visão estritamente física e não artística da situação, o cinema é o melhor lugar do mundo para se estar em Agosto (ombreando, admito, com uma ilha semi-deserta nos trópicos, onde nos abanam com folhas de palmeira) porque, estejam as temperaturas que estiverem no mundo, no escurinho do cinema, está sempre fresco.

A primeira quinta-feira da época baixa abre com um produto típico da estação: leve, inofensivo e – em dizer jurássico – para toda a família. O título não dá hipótese ao pai e à mãe que cheguem ao multiplex com os dois filhos adolescentes e os quatro sobrinhos minúsculos pela mão. Olham para o cartaz e pensam onde poderão meter aquelas três gerações de vida selvagem sem que ninguém se aborreça ou descubra verdades traumatizantes antes de tempo. Vêem uma coisa chamada “Miúdos E Graúdos” e nem pensam mais no assunto – bingo. É isto.

“Miúdos E Graúdos” tem três camadas de leitura: uma que promete a catástrofe, outra que promete a surpresa e a final onde se fica por um morno assim-assim.

Um grupo de amigos reencontra-se para o funeral de outro amigo, o seu velho treinador de basquete – aborrecido e batido. Passaram muitos anos desde que se viram a última vez e vão ver quem está gordo, careca, rico, pobre, solteiro, casado e com quem – para lá de visto e muito pouco recomendável.

Esta é a camada que augura o desastre. Mas, depois, descobre-se que, afinal, há ali matéria para pensar. Há uma reflexão sobre as diferenças entre as crianças que os adultos foram nos anos 70 e as crianças dos anos zero. Os filhos obcecados com jogos de consola, que não sabem o que fazer com uma pedra e um lago, que não reconhecem um televisor que não seja um plasma, que mandam sms por tudo e nada. Em paralelo, “Miúdos E Graúdos” tenta ainda pôr esses pais a reviver ritos simples de infância, revelando uma verdade, dizemos nós, incontestável: que, de tempos a tempos, em circunstâncias especiais, sentimos que, afinal, sempre fomos miúdos pequenos a chocalhar dentro de corpos adultos. Entre uma e outra ideia, passa a moral do filme: dar tudo durante o jogo para que, quando soe o apito final, não haja remorsos.

Chegados aqui, “Grown-ups”, no original, não é capaz de fazer o malabarismo de manter no ar todos os pratos que serviu. Foge-lhe o pé para o lugar-comum, para a solução fácil, os finais felizes, as piadas escatológicas. Há personagens a mais e demasiada vontade de fazer aquilo que as distribuidoras depois classificarão como “a comédia deste Verão”. A tentativa de bater um novo recorde de piadas por segundo é louvável, mas fracassa. Metade das piadas vai ao cesto, a outra metade ao lado. E não há nada pior para uma comédia do que deixar tantas vezes a plateia com aquele sorriso amarelo no rosto, à espera de que a próxima seja melhor.

Se gostar de Adam Sandler, Chris Rock, Salma Hayek (aqui creditada com um terceiro nome pós-casamento: Pinault), David Spade, Maria Bello e Steve Buscemi, vale a pena a ver. Se for só pela temperatura, mais vale aguentar o calor.

AB

i, 2010.08.05

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