a a-team voltou. agora, só falta o filme


SOLDADOS DA FORTUNA

De: Joe Carnahan

Com: Liam Neeson, Bradley Cooper, Sharlto Copley

Comecemos por uma inquietação: já reparou o leitor que, cada vez mais, os sex-symbols dos filmes são homens? A coisa começou quando a saga James Bond, esse último reduto da virilidade, pôs Daniel Craig a sair da água em calção, em vez da tradicional bond-girl. Depois, foi o descalabro. Aquele velho instrumento cinematográfico em que a atenção da plateia é desviada da acção para o aspecto físico de uma personagem que aparece seminua só porque sim, já não é tanto desempenhado por morenas exóticas ou louras exuberantes, mas por cavalheiros com hipertrofia muscular. Exemplos recentes: em “Dia E Noite”, Cameron Diaz tem direito a fracções de segundo em biquini; Tom Cruise passeia-se em tronco nu e de suminho de frutas na mão. Em “Plano B… ebé”, Jennifer Lopez faz de jovem discreta que tem um acidente quando se deslumbra com a visão de Alex O’Loughlin de abdómen ao léu. De “Twilight” ou “Sexo E A Cidade” nem se fala, porque é difícil encontrar um filme debaixo do desfile de jovens tonificados. Em “Soldados Da Fortuna”, Jessica Biel fica escondidinha em preparos militares enquanto Bradley Cooper aparece de roupão, sem camisa, o diabo a quatro. E é isto, caro leitor, ou melhor, cara leitora: o século XXI é das mulheres.

Finda a reflexão, passemos ao filme.

Não era preciso muito para chamar às salas os nostálgicos de “Soldados Da Fortuna”. Por isso, o estúdio entregou o argumento a Joe Carnahan, que o ano passado assinara o banalíssimo guião de “Orgulho E Glória”, e a Brian Bloom, um actor jamais creditado como argumentista. Carnahan acumulou com a realização; Bloom com a interpretação do vilão, que apesar da feroz concorrência, leva a palma de pior personagem do filme.

“Soldados Da Fortuna” começa com um longuíssimo prelúdio que apresenta os membros do gangue e explica como formaram a A-Team, essa brigada de operações especiais que actua por conta e estilo próprios. Depois, viaja no tempo até aterrar na missão que ocupará o resto do filme. Ora, essa missão é de uma irrelevância tal que é possível que, à saída da sala, o espectador já não se lembre do que estava em jogo. Não é a vida de ninguém, uma delicada intriga diplomática, nem sequer a tradicional salvação do mundo. Tudo o que a A-Team tem de fazer é recuperar uma impressora de notas de 100 dólares que desapareceu. Jesus, a angústia que isto causa no espectador. Que será de todos nós se os soldados não conseguirem recuperar a pobre da máquina?

A química entre o grupo funciona e, curiosamente, essa até poderia ser a tarefa mais espinhosa desta adaptação. Somos entretidos enquanto estamos entre os quatro soldados, naquele ensemble esquizofrénico e nos gags que, constantemente, fazem acontecer. No plano individual, Liam Neeson é um bom canastrão, Cooper um bom gajo porreiro e Sharlto Copley, essa descoberta revelada pelo magnífico “Distrito 9”, é hilariante a cada aparição. Só Quinton “Rampage” Jackson deixa a desejar como B.A.. A personagem mais icónica da série fica entregue a alguém que nem fisicamente é capaz de se impor.

Mas, uma vez saídos dessa esfera, “Soldados Da Fortuna” não tem nada para oferecer. Tem vilões patéticos que fazem longos discursos coroados com uma gargalhada antes do tiro fatal, um romance de interesse zero entre as personagens de Cooper e Biel, e um pretenso twist final que não mexe com um único nervo do nosso corpo.

O lei… Ehem, a leitora dirá: ‘Mas são só os “Soldados Da Fortuna”. Estava à espera de uma coisa muito densa?’ E nós respondemos: não. Realmente, não estávamos à espera de grande coisa.

Mas teria sido um prazer ser surpreendido.

AB

i, 2010.07.29

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