a evolução das espécies, segundo bret easton ellis
OS INFORMADORES
De: Gregor Jordan
Com: Billy Bob Thornton, Kim Basinger, Mickey Rourke
Los Angeles, 1983. A televisão fala de Reagan e de uma doença estranha que parece espalhar-se entre homossexuais. Mas trabalha para o vazio. Num apartamento luxuoso e branco como uma pureza mitológica, três jovens belos e louros, dois rapazes e uma rapariga, investem os corpos num ménage à trois. No seu gabinete em Hollywood, um produtor de meia-idade quer voltar para a mulher que retoca a maquilhagem noutro quarto belo e amplo, depois de dormir com o prostituto que também dorme com o filho e a namorada do filho. Ela não sabe se deve voltar para o marido e o marido não sabe por que quer voltar para a mulher, se ainda mantém um affair com a pivô do noticiário que, há bocado, falava de Reagan e vírus misteriosos.
Na recepção do condomínio de luxo, um rapaz baixo e gordo continua a sonhar, dentro da farda de porteiro, que, um dia, triunfará em LA. Ao mesmo tempo, na sua casa modesta longe da acção, um tio que, certa vez, chegou a ser actor e a subir os primeiros metros dessa rampa para a felicidade, dorme com uma menor enquanto mantém sequestrada uma criança, por motivos que nunca serão contados. Noutro ponto, na mesma Los Angeles, uma estrela pós-glam, pós-punk, mistura de Peter Murphy + Billy Idol + Iggy Pop, actua para uma multidão alucinada, sob um pano de fundo onde se lê “The Informers Tour”. Está a desfazer-se como um pedaço de vidro em câmara lenta – mas, em palco, cair é dançar.
“Os Informadores” adapta o livro de short stories de Bret Easton Ellis. O próprio Ellis divide a responsabilidade do argumento com Nicholas Jarecki. É um “American Psycho” com Hollywood em vez de yuppies. Mas o mesmo tratado sobre a frieza, superficialidade, vacuidade e amoralidade de gente obcecada com a sua juventude, a sua beleza, o seu prazer. É o mundo depois de lhe retirarem o coração e as vísceras, uma casa perfeita de bonecas, marionetas manipuladas por manequins, um Planeta Terra pós-apocalíptico onde sobreviveu tudo excepto a humanidade – mas os corpos ficaram lá.
Uma semana depois de “Fame”, é um novo regresso aos 80’s, mas, desta vez, pelo lado cru. O lado do fim do desejo porque já se tem tudo o que se quer, enfeitado com Ray-Bans, os cortes de cabelo mais lamentáveis desde o Neolítico, MTV, muitas drogas e ninguém para nos dizer o que devemos ou não fazer. Isto pela mão de um elenco ironicamente revivalista em si mesmo: Winona Ryder, Chris Isaak, Billy Bob Thornton e – tã-nã-nã-nã – Kim Basinger e Mickey Rourke. Sim. Juntos de novo num mesmo filme, nove vidas e meia depois, mas sem fritar ovos na barriga um do outro ou partilhar sequer uma mísera cena. Contudo, os pesos-pesados ficam só com os papéis secundários de has-beens, libertando a ribalta para um elenco jovem, desconhecido e que, na verdade, ainda gatinhava no tempo em que Reagan e a SIDA abriam noticiários.
Em Sundance, odiaram. A crítica internacional, de uma forma geral, tem demolido. Mas um homem tem que ser fiel àquilo em que acredita: “Os Informadores” são um bom filme. Vazio, frio e superficial, decerto, porque fala de vacuidade, frieza e superficialidade. Não podia ser doutra forma. De um modo perverso, aliás, “Os Informadores” são uma história de amor, o amor segundo Bret Easton Ellis. Um amor sem nome que irrompe envergonhadamente numa sociedade onde os sentimentos foram eliminados sem se dar por isso, como uma evolução da espécie. Livrámo-nos do amor como nos livrámos dos pêlos. Não há moral da história? Pois não. Por isso é que é Bret Easton Ellis. Não La Fontaine.
AB
i, 2009.10.08
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