a luta de classes



Arranca hoje o 6º Indie Lisboa, festival de cinema independente. Se confirmar a tendência de crescimento, terá ainda mais público, para mais salas e mais filmes. O Indie – o petit-nom atesta bem do seu reconhecimento – é um fenómeno de popularidade justo e que se saúda. Mas causa estranheza. Não consta que os portugueses sejam extraordinários consumidores de cinema. Ainda por cima, independente.

E há mais casos. O DocLisboa, o Festival de Cinema Francês, o Gay & Lésbico, o italiano, o digital, etc. Em poucos anos, Lisboa, que invejava ao Porto o Fantas, encheu-se de ciclos para nichos de cinema, com saldo inequivocamente positivo. Como é que isto aconteceu? É um mistério.

Nos circuitos comerciais, todos os anos as salas perdem público. Na televisão, as longas-metragens tapam buracos de grelha. No aluguer, os Blockbuster vivem dias difíceis. Em franco crescimento, só a pirataria. Será que, entre festivais, os cinéfilos passam o ano a descarregar filmes ilegalmente na net? Não seria uma boa notícia. Mas não creio.

O que uma rápida peregrinação pelos vários certames comprova é algo mais simples: os portugueses não são loucos por cinema, mas há um pequeno grupo que sim. O grupo que vai a todos os festivais de cinema, aos bons festivais de música, que consome bons produtos culturais e escreve, na blogosfera e na imprensa, acerca deles, enquanto desdenha do resto do país que devora os Gouchas, as Fátimas, as Praças da Alegria, as novelas.

Porque, em Portugal, desconfio, há um fosso maior que o que separa ricos de pobres – o que afasta a cultura da ignorância.

Só não sei qual deles é mais preocupante.
AB

Publicado no Meia Hora de 5ª, 23 de Abril.

Comentários

Gosto muito desta coluna no Meia Hora e este "artigo" interessou-me bastante.
Continuo à espera de mais pérolas como estas.
Anónimo disse…
Obrigado, Ritha. Se puder, esteja atenta também ao novo diário, I, que começa a sair na próxima 5ª.

Barreira Invisível Podcast