Mentiras mal contadas
Dirigir boas cenas de acção, intensas, realistas q.b. e, acima de tudo, verosímeis, não é para qualquer um. Ridley Scott - com a sua louvada e oscarizada equipa – faz parte de um grupo restrito de eleitos que, por estes dias, inclui nomes como Paul Greengrass ou Michael Mann. “O Corpo da Mentira”, filme de espionagem com a guerra ao terrorismo como pano de fundo, exibe toda a mestria com que Scott domina o género mas falha no mais importante: não é capaz de entusiasmar sequer o mais bélico dos espectadores. O problema está na história, adaptada por William Monaham a partir de um romance de David Ignatius. Se na primeira hora acreditamos piamente no agente da CIA Roger Ferris (Leonardo DiCaprio) e na sua missão – comandada à distância pelo “falcão” Ed Hoffman (um inchado Russell Crowe) – de capturar o terrorista Al Salim, espécie de concorrente de Bin Laden, não temos outro remédio se não desconfiar da decisiva mas pouco convincente história de amor entre Ferris e a enfermeira Aisha (Golshifteh Farahani). Apesar de DiCaprio ser um protagonista à altura, o “palco” acaba por ser roubado pelo actor inglês Mark Strong, o melhor do filme na pele – e nos impecáveis fatos – de Hani Salaam, o chefe dos serviços secretos da Jordânia.
Acaba por haver em “O Corpo da Mentira” uma cena que ilustra na perfeição o fracasso da guerra ao terrorismo: quando a arrogante CIA, com toda a sua alta tecnologia – como a “situation room” que permite seguir, como num jogo de computador, todos os passos de Ferris - é posta fora de acção por algo tão simples como a poeira do deserto. “Body of Lies”, no seu título original, não é de deitar fora mas Ridley Scott costuma fazer muito melhor.Paulo Narigão Reis
(publicado no Meia Hora de 27 de Novembro de 2008)
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