a importância de se chamar james bond
James Bond é como o Natal: volta com uma periodicidade assombrosa, chega sempre mais depressa do que o calendário pareceu andar e, embora consista sempre mais ou menos do mesmo, gera inevitavelmente uma expectativa um tanto ou quanto irracional. Mas Bond tem sobre o Pai Natal a vantagem de não confinar os presentes ao sapatinho; elas vêm no relógio, nos óculos, na caneta, na mala, no carro. De resto, onde um escolheu as renas, o outro optou por bond-girls em biquini, mas isso é lá a vida pessoal do Pai Natal.
Casino Royale, o primeiro da era Craig, foi o melhor da série em muitos anos e mesmo, por que não dizê-lo?, um dos mais interessantes filmes de 2006. Adulto, negro, inteligente. Mas, amiúde, tal como muito presente de Natal, desde que se dê, é irrelevante o que se dá. A família vai lá estar na mesma, ninguém aparece de surpresa, ninguém sai demasiado eufórico ou decepcionado.
O Bond que hoje estreia parece fazer justiça a essa ideia. Não pelo que o filme seja, lá está – até porque ainda não o vi – mas pelo título escolhido: Quantum Of Solace. Se, no Inglês original, se trata já duma formulação difícil e pouco atractiva, a distribuidora portuguesa optou por não a traduzir sequer. Porquê? Porque, na verdade, é irrelevante o nome dum Bond, desde que bond. Podia ter o títulos que se quisesse: 007 – Estou A Ficar Sem Bateria, 007 – Não Sejas Mau Para Mim; 007 – Há Caracóis; 007 – Promoção Especial Casa & Jardim. Quem costuma ver, ia ver; quem não, não; e a véspera de Natal seria, à mesma, passada no Colombo.
AB
[Publicado no Meia Hora de quinta-feira, 06 de Novembro]
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