Presidentes

Esqueçam JFK, Roosevelt ou mesmo Bill Clinton. Os melhores presidentes dos Estados Unidos chamam-se Jed Bartlet, David Palmer, Tom Beck, James Marshall ou, simplesmente, Dave e têm a particularidade, diria mesmo a vantagem, de não existirem. No que a ocupantes da Casa Branca diz respeito, a arte esteve sempre à frente da vida. Barack Obama pode vir a ser o primeiro presidente negro? Hollywood pensou nisso há dez anos, quando entregou o cargo a Morgan Freeman no catastrófico Impacto Profundo. Já neste século, a série 24 criou uma pequena dinastia de presidentes afro-americanos com David Palmer (o actor Dennis Haysbert) e o irmão Wayne Palmer (D. B. Woodside). Até Chris Rock chegou lá, no seu Chefe de Estado, uma comédia com óbvia tagline: “The only thing white is the house”. Já Hillary Clinton tem de enfrentar menor concorrência: a “commander in chief” Geena Davis é, até à data - e descontando Monica Lewinski -, a única ocupante feminina da sala oval. Há um pouco de tudo na já enorme galeria de presidentes eleitos por Hollywood: heróis de acção (Harrison Ford em Air Force One ou Bill Paxton em O Dia da Independência), políticos corruptos (Gene Hackman em Poder Absoluto), mulherengos (Billy Bob Thornton em O Amor Acontece) ou até mesmo imitadores de presidentes (Kevin Kline em Dave). O melhor de todos, claro, saiu da cabeça de Aaron Sorkin, chama-se Jed Bartlet e foi encarnado por Martin Sheen em West Wing, a mãe de todas as séries políticas. Mas numa coisa Hollywood falhou: nunca foi capaz de criar presidente tão idiota como George W. Bush.

Paulo Narigão Reis
(Publicado no Meia Hora de 9/05/2008