Ir ali à sala
Vou à rua ao cinema como quem vai ali à sala ver televisão. Com uma ligeira diferença: vou mais ao cinema do que vou à sala.
Não se trata só - embora seja determinante - de ter tido a sorte, ao longo destes anos de vida, de sempre ter por perto salas de cinema. Neste exacto momento em que vos escrevo tenho mais de 10 salas de cinema a 5 minutos a pé. Isto reflecte-se sobre o carácter de uma pessoa. Saio muitas vezes do meu escritório com a mesma roupa, a mesma parafernália e a mesma disposição com que vou até ao frigorífico buscar gelo para o whisky. Só tenho de juntar chaves e um cartão Medeia.
Isto também altera a percepção que se tem do cinema. É um cinema à vontade com o seu espectador e eu com ele. Um cinema sem pressas, normalmente nas primeiras filas para não haver lembrança de gente entre mim e a tela. Só as que lá estão. Isto permite trazer os pensamentos de casa e continuá-los na sala de cinema, sem grandes esforços. Permite tentar iludir o fim de espírito caseiro que vai cessando à medida que abandonamos o lar. Com sorte, continuamos na sala - e mais importante no filme - o espírito que tinhamos conseguido obter em casa, a mesma medida, a mesma contemplação, o mesmo ritmo. Só falta, como já aqui se escreveu, um whisky na mão.
DM
Não se trata só - embora seja determinante - de ter tido a sorte, ao longo destes anos de vida, de sempre ter por perto salas de cinema. Neste exacto momento em que vos escrevo tenho mais de 10 salas de cinema a 5 minutos a pé. Isto reflecte-se sobre o carácter de uma pessoa. Saio muitas vezes do meu escritório com a mesma roupa, a mesma parafernália e a mesma disposição com que vou até ao frigorífico buscar gelo para o whisky. Só tenho de juntar chaves e um cartão Medeia.
Isto também altera a percepção que se tem do cinema. É um cinema à vontade com o seu espectador e eu com ele. Um cinema sem pressas, normalmente nas primeiras filas para não haver lembrança de gente entre mim e a tela. Só as que lá estão. Isto permite trazer os pensamentos de casa e continuá-los na sala de cinema, sem grandes esforços. Permite tentar iludir o fim de espírito caseiro que vai cessando à medida que abandonamos o lar. Com sorte, continuamos na sala - e mais importante no filme - o espírito que tinhamos conseguido obter em casa, a mesma medida, a mesma contemplação, o mesmo ritmo. Só falta, como já aqui se escreveu, um whisky na mão.
DM
Comentários
A sua (eterna e saudável?!) vontade de escárnio e maldizer fê-lo precipitar-se no caso sub judice, doutor:)
- E o que vale uma opinião sem liberdade de expressão?!
Enfim...tudo isto para finalmente lhe poder dizer que aprecio, sinceramente o que durante estes anos tem vindo a escrever:)
(Ser funcionário público e, ainda por cima, do ministério da educação, assemelha-se-me, por vezes, a uma verdadeira maldição. Não fora não sei bem o quê, já teria mudado. Bem, claro que não)