No cinema com Catherine Deneuve

Preparava-me, ontem, para escrever o texto de uma ideia que me acompanha há alguns dias quando nova epifania se deu. Viria o texto a ser sobre a interessante revolução da versão comentada de filmes em dvd. Só por si, creio, é ideia que, não faltando o engenho, daria bom texto. Pois bem, caros leitores, eu vi o futuro e, felizmente, ao contrário de Cohen, não é assassínio. O futuro é coisa distinta. Imaginem isto. Imaginem que são loucos pela Belle de Jour, 1967, coisa de paixão mesmo, coisa a levar-vos a ver todas as reposições do filme desde 1994. Enfim, imaginem. Some-se a isto um fascínio por Luis Buñuel e Catherine Deneuve e projectem-se de 1967 para 2006 (e para o ano é que vai ser...). Agora imaginem-se a regressar à Cinemateca, por exemplo, para uma reposição de Belle de Jour, com comentários de Catherine Deneuve. Isso mesmo, comentários de Catherine Deneuve, quase 40 anos depois. Conseguem imaginar o que teria actriz a dizer agora? Sobre este filme, sobre o realizador espanhol, sobre Michel Piccoli? Agora multipliquem isto por todos os filmes de que gostam e imaginem poderem regressar a eles, numa sala de cinema, no magnífico grande ecrã, na escuridão, pela voz de Paul Newman e Robert Redford em Butch Cassidy and The Sundance Kid (1969) mais de 35 anos depois. Ou Mallick a guiar-nos pelas Badlands ou Coppola pela Vietnam. E rever Mary Poppins (1964), mais de 40 anos depois, com Julie Andrews rememorando?

O meu ponto é este. Tal como existe uma distinção entre ver um filme, em película, no cinema e ver um filme em dvd, em casa ou onde for, existe uma diferença entre ver um filme comentado no cinema ou noutro local qualquer, noutro suporte qualquer. É a qualidade da experiência que se altera com a alteração de medium. E isto é tudo.
DM

Comentários

Barreira Invisível Podcast