Recordar Resnais

para o Luís Martins


Não sei bem se o primeiro filme que vi dele foi Hiroshima Meu Amor se foi  O Último Ano em Marienbad. Não será difícil de confirmar, pois lembro-me que foi em 1994, o meu ano mágico de cinema, de que guardei muitos registos. Talvez tenha sido primeiro Hiroshima e de só depois Marienbad, mas foi este último que me marcou mais, até hoje. O Último Ano em Marienbad, na altura em que o vi, já se havia tornado uma espécie de exemplo pré-formatado para criticar o cinema francês e, em geral, todo o cinema dito intelectual. A cada conversa em que se discutia cinema alguém (o que pensando agora, à distância, demonstra a disseminação ubíqua do filme) invocava Marienbad para demonstrar o cinema "intelectualóide", "chato", "sem história", etc. Eu não sou exemplo para ninguém - quer dizer, eu gosto bastante do Gerry - mas devo dizer-vos que acho realmente O Último Ano em Marienbad uma obra-prima. É, sobretudo, um filme que faz cada vez mais falta à contemporaneidade, onde tudo vem embalado e pronto a consumir. 
Quando o Luís fez 18 anos, estou quase certo que íamos ver um filme e acabámos a ver outro. Esse outro foi Smoking/No Smoking e o seu separador intercalar "ou bien", além de ter dado para várias semanas de piadas, ainda hoje aparece entre conversas de amigos. Guardo até hoje o postal desse filme, enviado pelo Zé Manel, a instar-me fortemente a que o fosse ver rapidamente. Gostei muito. Entretanto, Resnais tornou-se, para mim, o realizador do Luís. Os três filmes dele que até aqui indiquei são três dos seus filmes preferidos e há algo de Resnaisniano no Luís, coisa que acho que nunca lhe disse.
O quarto filme de Resnais que vi há-de ter sido Muriel, numa reposição que devo agradecer à Cinemateca, para não variar. Comprei-o ontem em DVD, como homenagem singela ao realizador francês. Comercialmente, a minha estreia com ele foi com É sempre a mesma canção, de que não gostei particularmente. O último filme que dele vi foi Couers, de que gostei um pouco. Apesar de para mim Resnais me bastar pelos primeiros três filmes que indiquei e que me marcaram muitíssimo é com felicidade que me despeço dele com dois filmes que quero muito ver e que vou tratar de comprar, deixando à Cinemateca o favor de os repor um dia destes: O Meu Tio da América e Amor Eterno. Os grandes mestres têm quase sempre as mesmas características: à sua morte ainda há muito a aprender com eles e há sempre muito para revisitar e recordar.

DM

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