acordem-nos quando isto acabar


A SAGA TWILIGHT: ECLIPSE

De: David Slade

Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner

Vamos directos ao assunto, já que “Twilight” não vai: este filme é um bocadinho melhor que os outros. Mas ser um bocadinho melhor que zero continua a não ser grande coisa. O que é que “Eclipse” tem de melhor? Três coisas: vestígios de sentido de humor na forma de auto-ironia (a dada altura, Taylor Lautner lá aparece em tronco nu porque sim e Robert Pattinson faz a questão que vai na cabeça de todos: “Mas este tipo não tem uma t-shirt?”). A protagonista Kristen Stewart já só passa oitenta por cento do filme a olhar para o chão e, às vezes, quase parece estar viva. E apresentam-se algumas personagens novas que obrigam a mostrar o passado de cada uma em flashback, o que, sendo mau, contribui para um bem maior: afastar-nos durante alguns minutos do imberbe triângulo amoroso no centro de toda a – usemos a palavra por comodidade de linguagem – acção.

À parte isso, continuam lá todos os males. Uma história sem sabor nem emoção que anda a passo de caracol, suspense para acontecimentos sem qualquer importância, diálogos vazios e uma intrigante falta de contacto com o universo que deveria servir de matriz ao filme: os vampiros. Sabemos que os Cullen, a família de Edward (Pattinson), são vampiros porque, de vez em quando, uma personagem o recorda porque, na verdade, podiam ser góticos, albinos, modelos no desemprego, mormons, técnicos oficiais de contas. No eixo da trama, persiste o mesmo problema: Bella (Stewart) ama muito Edward e ele ama-a muito também. Ela quer ser vampira como ele e ele aceita, desde que casem. Mas nunca mais casam nem ele a transforma em vampira, porque se arriscavam a ficar sem assunto e, afinal, ainda há dois filmes e uns quantos milhões de dólares a fazer. Em todo o caso, Edward deveria apressar-se: é que ele é imortal; já Bella, qualquer dia, ou entra na menopausa ou bate a bota.

Em cima deste terrível drama que só importa aos dois meninos, há, de novo, Jacob (Lautner). Para que serve ele, além de vender posters a moças de doze anos? Para que Bella, a tal que ama muito Edward, fuja para os braços de outro, assim que o jovem pálido lhe diga uma palavra menos conveniente. Tudo muito maduro, portanto.

O terceiro volume tem uma moral óbvia: as escolhas. A juventude está a fazer a festa de graduação e precisa de escolher o que quer ser na vida. Tal como Bella tem de escolher ser vampira ou humana, fazer carícias nos caracóis de Edward ou nos bíceps de Jacob, continuar a ser tontinha ou mudar de atitude. E é isto. No fim, é claro, não há qualquer resposta consistente. Edward e Bella regressam ao campo florido onde, volta e meia, aparecem deitados, fazendo a ponte com a castidade defendida pela saga e que surge, agora, mais explícita que nunca: não há sexo antes do casório porque os vampiros são rapazes à antiga. O princípio, de tão contra-corrente, até poderia ser interessante, mas transborda para uma bocejante assexualidade geral de toda a saga.

Por fim, surge Victoria, uma vampira vingativa agora interpretada por Bryce Dallas Howard. Vem formar um exército de vampiros que destruam Edward, que lhe matou o apaixonado algum tempo atrás. O filme alimenta-se da expectativa que cria para esse confronto final, alegadamente temível. Mas, quando vem, o exército é, afinal, uma dúzia de zombies desastrados, a luta um exercício académico de finalistas do curso de efeitos digitais e tudo acaba quando ainda mal tinha começado. A verdade é que também já ninguém esperava mais.

Ah! Por que é que o filme (e o livro) se chama “Eclipse”? Não se sabe. Deve ser porque ficava lindo na capa. Isso e uns rapazes giros.

AB

i, 2010.07.01

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