Snare shot

Vi este fim-de-semana «I'm Not There». Leiam o Alexandre. Gostei, gostei, não me venham com merdas, gostei. Bem sei que o que vou dizer não faz sentido (sob pena de sufocar o néctar das vinhas da hidra de Haynes), mas gostava imenso de ver aquele filme como Richard Gere que está ali dentro, próximo, pareceu-me, de um «Big Fish» nordestino ou - talvez - de um «Amarcord» sem praia. A Auto-Estrada 61 escorre de Norte para Sul. Locupletar é um verbo útil. Ah, e o outro filme, com o puto que faz de Woody Guthrie. A deslocação, o movimento, como ponto de encontro de um e outro, a viola como testemunho da estafeta americana. É claro que parece complicado a viola ser deixada por Guthrie a Billy the Kid, mas o Sado também corre de Sul para Norte. Gostei da Edie Sedgwick. Toda a cena inglesa maravilhosa, outra vez próxima de soçobrar, pelos joelhos, como alguém que no primeiro dia a aprender a esquiar vai logo descer as pistas vermelhas. Grande Mr. Jones e grande ideia de Haynes para «Ballad of a Thin Man» (tão boa quanto má foi a do Pete Seeger e o seu machado. Se quisesse ver documentários via o «No direction Home» ou ia fazer campismo para o parque do CCL no Monsanto). No fundo, está tudo nos bootlegs. («I don't belive you. You're a liar. Play it fucking loud»). A edição de bootlegs, a bem ver trinta ou quarenta anos após o facto, para aqueles almofadinhas que têm agora idade para ter plasma, deveria vir logo com o sofá do IKEA. Cate Blanchett que é grande de repente é pequena e magra (e cansada) como Dylan, apesar de não dizer tão bem aos joelhos da jornalista inglesa «got a light? - you're kind of cute - what's your name» com eu uma vez já disse. A simple twist of fate. (Bonnie Prince Billy a fazer «Thunder Road» com os Tortoise, música para sociólogos. Mando-te um abraço). Mas muitas outras coisas fazem lembrar muitas outras coisas. Nao sei se é caso para isso, mas confesso: entrei no «Highway 61 Revisited» pela musiquinha que toca aqui em cima. Fabrizio de Andrè a cantar uma versão de «Desolation Row», como outras que canta, de Brassens por exemplo. Outra vez Itália, outra vez a praia a que nunca fui - Rimini - outra vez, adivinharam (era fácil), Fellini. Esta é uma versão possível deste post. Como cada um tem um - passado - cada um fará uma - versão. Assim como assim somos todos grandes referências do anonimato internacional.

RB

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