To hell with tags
Marcadores, tags, servem agora a todos para se lembrarem onde estacionaram os posts que escreveram. De onde veio todo este medo de estar perdido? É que, eu, que nunca me lembro onde estacionei o carro de um dia para o outro, e me cubro de ridículo no dia seguinte procurando-o, não consigo perceber a fúria classificativa em torno dos tags. A fúria classificativa dá-se muitos nas ciências, e nas ciências sociais e médicas, e, em geral, em todas as mentes que acreditam na reinserção social, e na taxonomia em particular. Muros mais altos do que nas prisões só os vi nos hospitais. Esta mania agora do tag é coisa de cemitérios (que como se sabe têm horror ao vazio funcional, disfarçando-o). E se no futuro, depois de tudo bem arrumadinho em caixinhas, descobrirmos que nos enganámos? É que, afinal, hell has no fury as with a mislabelled species. É chato acabar por não ir para o Céu só porque não se tem a papelada em ordem. De onde vem esta necessidade de meter tudo em caixinhas, muito bem arrumadinhas, de nada desperdiçar daquilo que um dia alguém possa querer recordar, de onde vem esta maldita ansiedade de não passar à história sem etiqueta no dedão do pé para que nos possam identificar. Se o Salazarismo foi ou não um fascismo é uma questão que entreteve os cientistas políticos durante imenso tempo. Uns quantos, mais avisados, resolveram a questão, como quase sempre o sociólogo, criando um espaço tipológico de atributos. Aí, finalmente, o Salazarismo podia conviver com os outros ismos sem provocar estragos. Nada acalmava tanto os cientistas políticos como ver os ismos todos bem comportadinhos dentro da sua respectiva caixa conceptual. Mansinhos no seu sarcófago. Tamed. Muros altos. Ora que bonzinho, ainda bem. De onde vem esta ideia que tudo o que escrevemos merece ser classificado, em vez de desculpado? De que vale a pena mais do que o indulto, a recordação mais do que o esquecimento? De onde vem esta imodéstia que é querer ajudar os outros a encontrar melhor as coisinhas que escrevemos, para que nunca lhes escape nada. De onde vem esta maldição de querer medir a Primavera com um pauzinho de fósforo? Porque, na verdade, who cares if some oneeyed son of a bitch / invents an instrument to measure Spring with? // […] since the thing perhaps is / to eat flowers and not to be afraid. Este blog tem tags, bem sei. Se suspeitava, caro leitor, que este blog que lia era mau, pois bem, esta é a confirmação que lhe faltava.
RB
RB
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