Indochina



Tenho ideia de que o segundo filme que estava há mais tempo para ver seria o Indochina. Filme de 1992, de Régis Wargnier, trouxe à minha vida a Catherine Deneuve real. Bem pouco tempo antes de o descobrir tinha visto, pela primeira vez Belle de Jour, nessa idade total de início da adolescência, que tornar-se-ia um dos filmes da minha vida. Mas a Catherine Deneuve de Belle de Jour, um filme de 1967, era de outro tempo e à falta de novos filmes dela, filmes que estreassem no Portugal de 1993, tudo aquilo me parecia histórico (só veria "A minha estação preferida" de Téchiné, alguns anos depois). 

E de repente ouço falar de um filme com Deneuve que ganhara o Óscar de melhor filme estrangeiro. Um épico amoroso passado nos últimos tempos da Indochina francesa. Desde então quis ver Indochina. Talvez o tenha perdido na Cinemateca, não sei. A verdade é que não me lembro se alguma vez o vi na programação. Mas acredito que sim, que o tenha perdido. Sobretudo estes meus últimos dez anos de cinefilia têm sido bem moderados e isso fez-me perder muita coisa. Contudo, há uns anos, talvez para colmatar esse remorso, decidi comprar o dvd para juntá-lo à minha coleção. Ainda assim não o vi logo e fui deixando o tempo passar. É verdade que entretanto vi outros filmes com Catherine Deneuve. Como não?! Passaram mais de 25 anos! Aliás, todos os filmes que vi com Deneuve estão entre Belle de Jour e Indochina. Talvez com a exceção dos Chapéus-de-chuva de Cherburgo, que creio ter visto na Cinemateca depois do filmes de Buñuel mas antes de ter descoberto a existência de Indochina. Pelo meio ficaram tantos filmes ótimos com Deneuve: a Sereia do Mississipi, Repulsa, Fome de Viver, Tristana, O Convento, O Último Metro, A minha estação preferida, Os ladrões, Genealogias de um crime, Praça Vendôme, Pola X, Dancer in the dark, Vou para casa, 8 mulheres, Os Bem-Amados. E mesmo assim tenho tantos para ver e sobretudo um que é uma relíquia para todos os portugueses fascinados com Deneuve, o "Férias Portuguesas", de 1963, realizado por Pierre Kast. Suspeito que só o conseguirei ver na Cinemateca. 

Então o que me fez, finalmente ver Indochina, à distância de uns passos entre a estante o leitor de dvd? Ter começado a ler "À Sombra de Mim Mesma", os diários de rodagem de Deneuve, em que um dos filmes é Indochina. Comprei este livro, que tinha na minha lista de compras desde o seu lançamento, apenas há alguns meses quando Deneuve teve um pequeno episódio vascular cerebral que fez notícia. Senti que tinha de ler o livro e comprei-o. Quando comecei a ler sobre a rodagem de Indochina decidi que tinha de ver o filme antes de ler mais e porque queria ler mais. Foi ontem. Um épico maravilhoso, que de algum modo me fez perceber porque Deneuve gostava de trabalhar com Oliveira. Mas que também me fez apreciar as belezas do Vietname. Este é um filme antes das guerras que assolaram o país mas já se sente essa sombra no filme. E se Deneuve é a razão que trouxe o filme até mim, há que notar ainda as presenças da dupla amorosa do filme, Vincent Perez e Linh Dan Pham.

Quanto ao primeiro, aquele que estou há mais tempo para ver desde que descobri a sua existência, trata-se também de um filme com Deneuve e chegou-me por postal de um amigo quando ele soube da minha paixão pela actriz. E sei também que esse perdi-o já, pelo menos uma vez, na Cinemateca. Trata-se da Princesa de Pele de Burro, de 1970, realizado por Jacques Demy. Também está ali na estante.
DM


Comentários

Barreira Invisível Podcast