Crescer e aparecer


Há muitas razões para gostar deste novo Super-Homem, apresentado pelo seu epíteto de Homem de Aço. Mesmo antes de ser, este Super-Homem já era. Era uma parceria de Christopher Nolan e Zack Snyder o que tranquilizava os fãs mais exigentes: a revisitação estava em boas mãos.

Já muito se escreveu sobre a maldição de ser Super-Homem e sobre a dificuldade de trazer o Super-Homem para o ecrã, agudizada pela prestações originais e saudosas de Christopher Reeves, mas sobretudo, pela dificuldade da personagem. O Super-Homem é o maior inimigo e, ao mesmo tempo, o maior desafio, de qualquer argumentista. No cinema, a coisa só piora. Já aqui escrevi sobre o problema, que é de tal modo colossal que serve mesmo de matriz distintiva das identidades entre a DC e a Marvel. O Super-Homem consome tudo. A única personagem em todo o universo da DC que está a altura do Super-Homem (e a DC já percebeu o valor dessa relação há algum tempo - só falta o filme!!!) é o Batman. Isto porque o Super-homem tem como tema a identidade, a solidão e a integração. A verdadeira luta do Super-Homem é contra ele mesmo, por mais Zods, Luthors e Doomsdays que lhe ponham no caminho. Daí que o Super-Homem crie um paradoxo que apenas uma mão firme consegue manter no bom caminho.

Claro que ajuda começar pelo princípio e começar bem. Ou, neste caso recomeçar. Já não há De Niro nem Susannah York, recorre-se ao espectacular, genial e magnífico Russell Crowe e à ultra-sensual e maravilhosa sex-until-labour-Ayelet Zurer. É evidente que sou suspeito mas o grande, fantástico e esplendoroso Crowe pareceu-me até um pouco mais de metade do filme bem melhor do que o seu filho. As cenas a bordo da nave kryptoniana em órbita da terra são de uma coolness impressionante. Enfim, outra coisa não seria de esperar de Decimus Maximus Meridius.

Aliás, toda a atenção dada à fase Kryptoniana é um dos primeiros grandes pormenores deste Man of Steel. Faltava no universo cinematográfico um pouco mais de Krypton. Quer nas grandes paisagens, quer nas pequenas coisas que fazem as delícias dos fãs, como finalmente verem no grande ecrã as míticas "battle armors" dos Guerreiros Kriptonianos.

O resto do filme é uma bom combinação de uma intriga interessante - a história do Super-Homem é perfeita para jogos de flashbacks e flashforwards - com cenas de acção muito bem feitas - a cena de pugilato entre Kal-El e Zod pelos céus de Metropolis é qualquer coisa de espectacular. Há também um pormenor de que gostei muito. Este é um Super-Homem não apologético. No momento presente em que decorre a acção ele já deixou para trás as suas dúvidas existenciais, com a excepção de uma: vai ou não a humanidade apoiar-me. E mesmo essa não o consome muito: ele resolve-a pela acção, combatendo os kryptonianos, do lado dos humanos.

Tudo isto ajuda a esquecer as alterações à história canónica, sobretudo da relação com o General Zod, mas a verdade é que mesmo no Universo DC, o cânone Zod é tudo menos linear.

Por fim, devo dizer que gostei da subtil insinuação de uma sequela: quase no fim, durante a luta entre Zod e Kal-El, um deles arremessa contra o outro um camião, onde se pode ler "LexCorp". Vemo-nos em Man of Steel 2 (se bem que o que eu espero mesmo é que o Man of Steel 3 seja o desejado crossover entre Super-Homem e Batman).

DM

Comentários

Ines Cisneiros disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Ines Cisneiros disse…
Noite Americana, a ajudar-me na selecção de idas ao cinema desde 2008. (Neste caso, fico por casa. Fica a expectativa de que o 3º valha a deslocação.) *
noite americana disse…
Foi o Russell Crowe que te afastou? :P

DM
Ines Cisneiros disse…
lol não, ainda que para o Crowe babe melhor em casa. Foi tudo o resto, principalmente o "alterações à história canónica, sobretudo da relação com o General Zod", sendo que - além do meu óbvio problema em ultrapassar o Reeve - as cenas com o Zod no Superman II são as minhas preferidas dos dois únicos filmes de jeito sobre o Super Homem que alguma vez se fez.
Besides, para quê dizer que é sobre o super-homem (/man of steel) um filme em que o Jor-El é melhor que o Kal-El? Surpreendeu-me a cena do não-apologético, dado que o trailer com música do Gladiador e monólogo epicó-deprimente fazia crer uma entrevista com a Oprah (e terapia de grupo com o Batman no Justice League que aí vem). P.S: Fortress of Solitude era grande nome para blog. [pena já existir mal aproveitado, ainda por cima.]

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