Ainda os Óscares 2013 II : A inesperada vitória de Steven Spielberg
Margaret Avery, Melinda Dillon, Oprah Winfrey, Christopher Walken, Anthony Hopkins, Whoopi Goldberg, Liam Neeson, Tom Hanks, Ralph Fiennes.
Todos estes actores têm em comum o facto de terem trabalhado em filmes de Steven Spielberg, terem sido nomeados para os Óscares com os seus desempenhos nesses mesmos filmes e não terem vencido a estatueta dourada.
Para um homem que nos últimos 40 anos tem sido apontado como, se não o mais importante de sempre, pelo menos um dos mais influentes realizadores da história do cinema e o mais importante dos cineastas vivos (e sim, é uma afirmação altamente debativel), o historial de Spielberg na noite mais importante de Hollywood tem sido construído maioritariamente de fracassos e dissabores e não com vitórias.
Em 13 nomeações Spielberg venceu apenas duas vezes o prémio de melhor realizador com A Lista de Schindler (1994) e O Resgate do Soldado Ryan (1998) e desde Asfalto Quente (1974) apenas por uma vez um filme seu mereceu as honras de melhor filme do ano (novamente A Lista de Schindler).
Pelo meio alguns recordes de contornos humilhantes, como ser realizador/produtor do filme com mais nomeações sem vencer um único prémio, feito alcançado por A Côr Purpura (1985) e quase repetido com o injustiçado Munique (2005), muito provavelmente o seu trabalho mais adulto.
Mas de todas as derrotas, nenhuma parecia manchar a carreira do realizador como a ausência de um Oscar para os seus actores. Muitos foram os génios da realização cinematográfica que não venceram Óscares, mas poucos desses génios não deram a estatueta aos seus actores e esta era a grande, senão mesmo a ultima, pedra no sapato de Spielberg.
Um pouco como o seu amigo George Lucas, Spielberg desde cedo foi visto como um realizador que descurava os seus actores em favor do lado técnico do cinema. Era um realizador jovem que devolvia a fantasia ao cinema mas não estava preparado para temas maduros, o homem dos efeitos especiais, dos grandes movimentos de câmera, das cenas de acção grandiosas, mas nunca de grandes desempenhos dramáticos.
Truffaut apontou-lhe o talento para lidar com crianças (talento mais que confirmado em E.T. - O Extra-Tterreste (1982) ), e numa conversa com John-Ryes Davies, o actor confessou-me que ao trabalhar por duas vezes com Spielberg sentira sempre estar na presença de um grande génio do cinema mudo, um génio que se sentia algo restringido quando tinha que lidar com diálogos.
Pode ser uma visão simplista e injusta. Basta revermos Tubarão (1975) para nos apercebermos do grande trabalho de direcção, o total controlo dos tempos e das emoções dos seus actores, um trabalho que que atinge o momento máximo na forma como o realizador conduz a famosa cena do USS Indianapolis, uma mistura perfeita do melhor estilo clássico de representação Britânica na pele de Robert Shaw, em confronto com o método do Actors Studio de Scheider e Dreyfuss. (Curiosamente Tubarão não teve nenhuma nomeação para os seus actores, mas estávamos 1975 e esse foi o ano de Padrinho 2 o que explica quase tudo...).
Spielberg aliás nunca foi um mau director de actores, mas antes o género de realizador que simplifica e faz parecer com que o bom trabalho seja dos actores e não seu, e bem se sabe como a Academia raramente premeia a simplicidade.
Como todas as boas histórias Americanas, o pote de ouro no final do arco-iris que Spielberg tanto procurava, estava guardado na 85ª edição dos Oscares sob a forma da interpretação de Daniel Day Lewis em Lincoln.
Um projecto que o realizador guardou na gaveta até acertar no homem certo para fazer o papel do mais carismático dos Presidentes Americanos (durante anos falou-se em Liam Neeson, e até Tom Cruise chegou a vir à baila).
Escolher Lewis (cujo qualquer desempenho arrisca-se sempre a ganhar prémios, tornou-se de há uns anos para cá o Sr. Meryl Streep) pode parecer o caminho mais fácil. Um gritar desesperado de "ok, já chega... podem-me dar agora o raio do Oscar que eu agora estou finalmente a trabalhar com o melhor", e se antes do filme estrear o galardão parecia certo para ambos, já depois de visionado o filme apercebemo-nos que nem este foi um dos papeis mais exigentes da carreira de Lewis nem dos filmes mais bem dirigidos de Spielberg. No final venceu a máxima que não se deve contrariar o destino quando os gigantes se unem.
Demorou 39 anos e 31 filmes para que Spielberg visse um dos seus protagonistas receber o galardão de melhor actor do ano e para que ele, desta forma, pudesse ser finalmente coroado como um grande realizador de actores.
Lincoln pode não ter vencido mais nenhum prémio na passada cerimónia de 25 de Fevereiro, mas mesmo na derrota do seu filme, Steven Spielberg acabou por ser um dos grandes vencedores da noite.
MS
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