Feelings, nothing more than feelings...

Em dois dias seguidos vi o último filme de Woody Allen e o último filme de Sam Mendes. Talvez pela proximidade temporal achei-lhes muitas parecenças no discurso, se bem que com opções técnicas e estéticas bem diferentes (e não me refiro, apenas, às protagonistas femininas). A verdade é que Vicky Cristina Barcelona e Revolutionary Road não só se centram nas relações humanas – ah, o amor, a paixão!... – mas especialmente na complexidade e variedade das relações humanas e nas tensões e conflitos que tais qualificativos originam. Veja-se o caso do filme de Woody Allen: a relação entre Bardem e Cruz (aliás, num papel brilhante) ilustram bem o que é uma relação destrutiva mas, ainda assim, com um alto nível de sex-appeal. Claro que comparar tal relação à de DiCaprio e Winslett pode não parece justo mas tem uma grande utilidade: repare-se que, em ambos os casos – aliás, as personagens femininas de ambos os filmes afirmam-no a certa altura – parece haver sentimentos a mais. Talvez seja só um caso clínico de loucura – aliás Penélope Cruz e Kate Winslett andam sempre no limiar da vida e da morte neste dois belos filmes. Daí que não seja despropositado ver nestes dois filmes uma revisitação de um tema recorrente na literatura e no cinema: o da relação entre a busca por uma felicidade e satisfação pacificadoras e suaves e, do outro lado, viver a paixão até ao limite. Uma espécie de busca pelo equilíbrio relacional perdido. Em ambos os casos, os realizadores, bem, não tomam posição moral, limitam-se a contar uma história e nós ficamos assim com margem para assumirmos as posições e as dores das personagens que mais nos disserem. E ficamos também com muitas sugestões de como repensar ou simplesmente criticar, saudavelmente, as nossas próprias vidas.

Domingos Miguel

(publicado no Meia Hora da passada quinta-feira)

Comentários

Mafalda Azevedo disse…
Ui, texto pertinente!

Well done! =)

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