a má publicidade

A malta gosta de bradar contra a publicidade televisiva. Que os blocos comerciais são desmesuradamente longos, em volume sonoro descabido e mais um ou outro pecado capital que esquece três factos fundamentais: um, que os tempos publicitários são regulamentados por lei; dois, que a televisão nos chega– nos seus quatro canais generalistas – de modo completamente gratuito e, como tal, tem de ser paga de alguma forma; três, que temos sempre em nosso poder essa extraordinária varinha de condão da democracia que dá pelo nome de telecomando.

Uma ida ao cinema, por outro lado, revela uma actividade publicitária bem mais sinistra… Ao contrário da televisão, o cinema é pago, à cabeça e na hora, pelo bilhete de cada espectador. Acresce a angústia de não existir telecomando. E culmina na não-informação do utente de que será torpedeado com publicidade à hora prevista para o filme.

No caso da cadeia Medeia, por exemplo, as letras miúdas das bilheteiras alertam para o detalhe de a sessão ter início oito minutos após a hora agendada, mas não é prática universal.

Dias atrás, cometi a loucura de entrar numa sala Lusomundo. Se havia advertência para a hora de começo da sessão, estaria bem disfarçada atrás dos baldes de pipocas e coca-colas amotinados na bilheteira. Mas o pior viria depois. Vinte minutos – vinte – de anúncios publicitários em decibéis a pedir meças à erupção do Krakatoa, seguidos de um – e apenas um – trailler e, finalmente, o filme (que, a propósito, ao cabo de meia hora, foi para intervalo).

Isto, caro leitor, leva-me ao elogio doutro bonito feito da democracia: o DVD. Os cinemas estão cada vez mais desertos. Mas alguns, lamento dizer, fizeram por merecer o seu destino.
AB

Publicado, anteonem, no MEIA HORA.