Mal nascido cinema português

Já não sei bem em que estado se encontra o cinema português junto do público. Se distinguirmos entre público nacional e internacional, então a minha confusão aumenta. Vem isto a propósito de dois factos que se juntaram espontaneamente na minha cabeça. Primeiro, Manoel de Oliveira, quase perto dos cem anos e em plena actividade cinematográfica – fará 100 anos no dia 11 de Dezembro de 2008 e tem em produção Singularidades de uma Rapariga Loira (curiosamente um dos meus contos preferidos do Eça); segundo, João Canijo a chegar às salas com Mal Nascida, passada no Trás-os-Montes profundos e que adapta, livremente, Electra, a de Eurípides.
São maus exemplos para lembrar o público do cinema português, porque exemplos de um cinema, à falta de melhor classificação, de autor, um pouco intelectuais, diriam alguns. Mas para não criar trincheiras onde guerra não há não vale a pena opor cinema dito comercial a tais alcunhas de filmes intelectuais. O que há em Portugal é uma necessidade de ir expandindo os públicos e aí, verdade seja dita, o cinema de autor leva avança. Falta ainda bom cinema comercial, para insistir nas fáceis reduções. Creio que me compreendem. Tudo isto para, não apenas recomendar o filme de João Canijo, Mal Nascida, mas para dizer que é um belíssimo filme para ver e analisar este ponto de que falo: como reage o público português a um cinema inteligente, que vai a Trás-os-Montes para encontrar a Electra, de Eurípides, no corpo e alma de Anabela Moreira.
DM

(texto publicado no Meia Hora da passada sexta-feira, dia 10 de Outubro)

Comentários

PL disse…
Desculpe a ousadia. Mas onde se lê Manuel Canijo, não se devia ler João Canijo como no segundo parágrafo?
noite americana disse…
Tem toda a razão, ficou o Manoel de Oliveira para o Canijo, João. Erro corrigido. Obrigado pela nota. DM

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